Filme do Dia: Páginas do Livro de Satã (1921), Carl Th. Dreyer
Páginas do Livro
de Satã (Blade af Satans Bog,
Dinamarca, 1921). Direção: Carl Th. Dreyer. Rot. Adaptado: Carl Th. Dreyer
& Edgar Hoyer, baseado no romance de Marie Corelli. Fotografia: George
Scnéevoigt. Dir. de arte:
Carl Th. Dreyer. Com: Halvard Hoff, Jacob Texiere, Hallander Helleman, Ebon
Strandin, Tenna Kraft, Viggo Wiehe, Emma Wiehe, Hugo Bruun, Nale Halden, Erling
Hannson, Helge Nilssen, Elith Pio, Clara Pontoppidan, Carlo Wieth.
Cerca de 30 anos da era cristã, Jesus
(Hoff) afirma que Judas (Texiere) será seu traidor na última ceia com os
apóstolos. Quando Jesus é preso pela brigada de fariseus, Judas se despede de
Jesus com um beijo, que Jesus afirma ser o beijo da traição. Na alta Idade
Média, um astrônomo de renome, don Gómez de Castro (Helleman) e sua filha,
Isabel (Strandin), objeto do amor do um jovem diácono são interpelados pela
Santa Inquisição. Como o diácono havia concordado há pouco tempo em participar
da Santa Inquisição para seu superior, terá agora que ser o algoz da família
que o acolhera tão bem e ao qual ele dera aulas para Isabel. Durante a
Revolução Francesa, Maria Antonieta (Kraft), sofre as duras injúrias da prisão,
enquanto o ódio radical jacobino aprisiona o Conde de Chambord (Vigo Wiehe).
Desesperadas, sua esposa (Emma Wiehe) e filha Genevieve fogem, graças a
intervenção de um antigo subordinado, Joseph (Pio), que promete ao Conde que
irá levá-las até um local seguro. Logo, no entanto, Joseph seduz pelo poder de
um jacobino que o ajuda a fazer parte do partido e se torna cúmplice na delação
que levará a Condessa e sua filha à guilhotina. Na época da Revolução Russa, a
jovem finlandesa Siri (Pontoppidan) suicida-se em nome da pátria, após um homem
que a deseja desesperadamente, tê-la delatado e ao marido aos Vermelhos, como
elementos simpatizantes do Exército Branco. Seu marido, no entanto,escapa do
fuzilamento.
Visivelmente influenciado por Intolerância (1916), de Griffith, a
quem pretende ser uma resposta, Dreyer também inspirou sua narrativa em quatro
momentos históricos diferenciados (embora não entrecruzados em montagem
alternada como havia feito o cineasta americano). Une os quatro uma dimensão
que, para além da intolerância apresentada no filme de Griffith se une um
discurso de forte ordem moral, de cunho religioso, no qual todos os delatores
são encarnações do próprio demônio através dos tempos. O resultado final é
sensivelmente prejudicado por sua visão de mundo explicitamente maniqueísta e
quase sempre conservadora onde os revolucionários, sejam soviéticos ou
franceses, são sempre encarnados como o que há de mais abjeto e mesquinho na humanidade,
enquanto seus opositores ganham uma verdadeira aura de santidade – como é o
caso, mais evidente entre todos – de Maria Antonieta (aliás essa tem sido a
tônica corrente no cinema, ao retratar por exemplo a Revolução Francesa seja em
retratos tão simplificadores quanto esse - A
Tale of Two Cities - ou mesmo apresentando uma maior ambiguidade e
complexidade que os habituais - A Inglesa e o Duque. Encontra-se longe de um maior amadurecimento do
cineasta, que começa a ser comprovado em produções imediatamente posteriores a
essa e que chegariam, em poucos anos, ao
nível de elaboração de A Paixão de Joana
D´Arc (1928) e Vampiro (1931).
Nordisk Film. Nordisk Film. 110 minutos.
Incrível! Assisti ao filme, muito bem explicado.
ResponderExcluirObrigado!
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