Filme do Dia: A Primeira Noite de um Homem (1967), Mike Nichols
A Primeira Noite de um Homem (The Graduate, EUA, 1967). Direção: Mike Nichols. Rot. Adaptado:
Caldar Willingham & Buck Henry, a partir do romance de Charles Webb.
Fotografia: Richard Surtees. Montagem: Sam O’Steen. Dir. de arte: Richard
Sylbert. Cenografia: George R. Nelson. Figurinos: Patricia Zipprodt. Com: Dustin
Hoffman, Anne Bancroft, Katharine Ross, William Daniels, Murray Hamilton,
Elizabeth Wilson, Buck Henry, Brian Avery.
Benjamin (Hoffman) é um jovem de classe média alta
recém-formado que sente-se mal com o grupo social dos amigos de seus pais e no
dia de comemoração de sua festa de formatura é seduzido pela melhor amiga deles,
a Sra. Robinson (Bancroft). Os dois passam a ter encontros fortuitos em um
hotel, mas os pais de Benjamin o encorajam a sair com a filha da Sra. Robinson,
Elaine (Ross). Eles saem. Inicialmente impertinente e distante, Benjamin, que a
levara para um clube de strip-tease, apaixona-se por ela. Os dois passam a namorar, porém a
relação rapidamente é interrompida pela descoberta de Elaine de que Benjamin
tivera um caso com sua mãe. Benjamin vai para Berkeley, seguindo os passos de
Elaine e a descobre com um pretendente a casamento, Carl (Avery), de formação
batista. O pai de Elaine, visita Benjamin e o alerta para se manter afastado da
filha. Quando descobre que Elaine se encontra em vias de casar, vai desesperado
a seu encontro e a chama do altar, fugindo os dois diante da estupefação de
todos.
Considerado, juntamente com Bonnie & Clyde como o filme que demarcaria o surgimento da New
Hollywood, a partir da incorporação de elementos estilísticos do cinema autoral
europeu dando vazão a um novo frescor na produção dos grandes estúdios que
exerceria extrema influência sobre o que veio após, provavelmente o filme
despertou maior apreço imediato pelo tom esquemático, ainda que oblíquo com o
qual flertava com a contracultura contemporânea. De fato, pretende-se criar uma
identificação irrestrita para com seu protagonista, vivido com brio pelo então
iniciante Hoffman, em sua segunda participação de um filme para cinema. Algumas
vezes tal identificação chega a ser até mesmo visual, como o momento em que
somos obrigados a compartilhar a angústia e humilhação de Benjamin ao ser
submetido, com trajes de mergulho, a adentrar a piscina da casa – sua imagem
solitária e tosca nos clama por simpatia. Doutras vezes, ela é construída sobre
elaborações fantasiosas na qual sua consciência culpada observa seus pais,
amigos deles e a Sra. Robinson a traçarem comentários sobre si, numa estratégia
visivelmente influenciada por Fellini. Por fim, em contraposição a ele, todos
os personagens maduros são chapados e ainda menos definidos que o próprio
Benjamin, que ainda conta com o efetivo auxílio da bela trilha de canções de
Simon & Garfunkel, numa das primeiras apropriações da música pop sobre a
trilha sonora convencional em uma produção de grande alcance de público (algo
que realizadores independentes haviam utilizado de forma mais radical e menos
adaptada a imperativos narrativos anos antes como Scorpio Rising, de Kenneth Anger). Dos “adultos” apenas sabemos dos
sobrenomes numa apropriação de mundo através de um ego narcísico que seria
reatualizada por diversos filmes posteriores, notadamente Beleza Americana. Aqui, ao contrário de seu anterior Quem Tem Medo de Virginia Woolf?,
Nichols conseguiu um equilíbrio mais palatável para um público mais amplo entre
contestação e conformismo, ao tornar tudo dotado de uma suavidade que exclui a
ironia sardônica e auto-destrutiva daquele, que mais parece representar os
personagens da geração dos pais do casal, despidos por completo do véu da
hipocrisia. Apesar da cena em que
Benjamin faz uso da cruz da igreja para trancafiar os convidados do casamento
enquanto foge com Elaine, o personagem
de Benjamin se encontra anos-luz de ser um típico rebelde de sua geração,
vestindo paletós e roupas mais comportadas e negando ser um manifestante ao
chegar a pousada onde se hospeda em Berkeley. Sua revolta é vivenciada
sobretudo interiormente, apenas se expressando ao final e, ainda assim, longe
de ter qualquer proporção que vá além de seu círculo pessoal de amigos e família.
Jeanne Moreau, Judy Garland, Susan Hayward e Ava Gardner chegaram, dentre
várias outras, a ser cogitadas para o
papel da Sra. Robinson. Lawrence Turman/Embassy Pictures para Embassy Pictures. National Film Registry em 1996. 106 minutos.
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