Filme do Dia: The Fool (2014), Yuriy Bikov

The Fool (Durak, Rússia, 2014). Direção e Rot. Original: Yuriy Bikov. Fotografia: Kiriil Klepalov. Cenografia: Stanislav Novak. Figurinos: Olga Pogodina. Com: Artyom Bistrov, Natalya Surkova, Sergei Artsibashev, Nikolai Bendera, Nina Antyukhova, Boris Nevzorov, Darya Moroz.
Dimi Nikitin (Bistrov) é um jovem encanador que vive em péssimas condições com os pais (Bendera e Antyukhova),  mulher (Moroz) e filho.  Incumbido de efetuar uma manutenção em conjunto habitacional relegado e vítima da corrupção política, descobre uma falha no prédio após a explosão de um cano. Dimi nota que, na verdade o cano é sintoma de toda uma estrutura comprometida e prestes a desabar. Ele busca auxílio junto a figura da prefeita (Surkova), que se encontra em meio a comemoração de seus 50 anos. Uma reunião de emergência é montada paralela a festa. Após a visita de outros membros da comissão, que confirmam o veredito de Dimi, um impasse surge no horizonte da prefeita: como, de última hora, alojar as cerca de 800 pessoas que vivem no conjunto, em meio ao frio do inverno? Após tentativas frustradas, a ordem é para executar dois dos burocratas envolvidos no projeto, assim como Dimi, que de última hora termina sendo salvo por um dos políticos que intercede por sua vida, dizendo se tratar de um simples encanador. Dimi busca a mulher e o filho e resolve partir da cidade, como havia sido sugerido por seus executores, porém ao passar em frente ao prédio e perceber que ninguém está sendo evacuado ele desiste de seguir com a família.
Ainda que algum alento promissor seja esboçado nessa produção em seu início, ambientando a tensão atmosférica (ressaltada pela bela fotografia de tons esmaecidos e soturnos) que paira sobre o futuro do jovem Dimi e discutido a mesa do jantar com os pais, a esposa e o filho pequeno como testemunha, logo se torna solapado por estratégias formais e dramáticas demasiado canhestras e mesmo vulgares. Das primeiras se destaca a sequencia desnecessária e clichê do momento em que o jovem se desloca para o local onde ocorre a festa de aniversário da prefeita, seguido em travellings intermináveis e com uma abominável canção na banda sonora que, fosse o filme francês, aplicar-se-ia a um momento dramático envolvendo alguma relação entre jovens  num filme contemporâneo. Das segundas, ainda menos interessantes, torna-se o caricato ao ponto do risível tom over com o qual caracteriza, por um lado, toda a máfia da burocracia estatal municipal (motivo para uma abordagem bem mais inteligente e menos esquemática por Fassbinder em seu Lola) e por outro a escória que mora no prédio, termo ressaltado por um dos personagens, mas igualmente justificado pelo próprio filme. Como em um filme clássico se tem aqui uma deadline de pouco mais de um dia, um herói que luta contra tudo e todos para conseguir conquistar seu objetivo e antagonistas vários e com maior poder que ele. Se o final não acena para nada muito feliz como seria o caso de um filme clássico, o próprio filme se encontra aquém de boa parte desses, com a falta de um item que naquele era precioso: a economia narrativa. Aqui se tem que aguentar inúmeras (e desnecessárias) acusações do grupo de burocratas-políticos entre si, em várias ocasiões, efeito de repetição também presente na família de Dimi contra ele, à exceção do pai, assim como uma repetição que se estende as caras e bocas de figuras como a da mãe ou da prefeita, que sugerem uma potencialidade mal aproveitada do elenco. Dedicado à memória de Aleksey Balabanov (Sobre Homens e Aberrações), cineasta também bastante crítico da Rússia, mas infinitamente mais inspirado em termos de elaboração visual e dramática. Prêmios de ator e ecumênico no Festival de Locarno. Rock Film Studio. 116 minutos.



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