Filme do Dia: Apa (1966), István Szabó
Apa
(Hungria, 1966). Direção e Rot. Original: István Szabó. Fotografia: Sándor
Sára. Música: János Gonda. Montagem: János Rózsa. Cenografia: Károly Molnár.
Figurinos: Erzsébet Mialkovszky. Com: András Bálint, Miklós Gábor, Dániel
Erdély, Katy Solyóm, Klári Tolnai, Szusza Ráthonyi, Ilone Pétenyi, Rita Békés.
Táko (Erdély) é uma criança que, após perder o
pai durante a Segunda Guerra, torna-se um exímio fantasista a seu respeito,
inventando situações dele para as outras crianças. Jovem (Bálint) e
apaixonado por Anni (Solymón), que perde os pais nos campos de concentração,
Táko continua, de forma mais discreta, a fantasiar sobre o pai morto, enquanto
sua mãe encontra-se com um homem mais velho. Táko viaja com amigos de trem e
ocasionalmente passa pelo vilarejo onde o pai havia nascido, assim como ele e
ao qual decide retornar após longo tempo para tentar encontrar pessoas que
conheceram seu pai. Táko acredita que necessita fazer algo pelo qual virá a ser
lembrado e sair da sombra da imagem paterna, como atravessar a nado o rio
Danúbio.
Fazendo parte de uma seleta lista de uma dúzia
de títulos considerados os melhores de todos os tempos na cinematografia
húngara, o filme sutilmente incorpora a proximidade com o universo do
realizador, recurso que havia se tornado coqueluche do cinema moderno do período (Terra em Transe, Blow Up, Persona, O Desafio, etc.), talvez, inclusive, de
forma autobiográfica. Ainda que, ao centrar boa parte de sua ação na infância,
tal proximidade não seja tão incisiva, ou mesmo em sua juventude, onde o cinema
surge como a possibilidade de atuação em um drama sobre as vítimas do nazismo,
o filme deixa referências na própria dimensão visual – quando vai entrevistar
pessoas sobre o seu pai, o estilo do filme se torna próximo do documental,
ganhando o protagonista, nunca observado em cena, o status de documentarista.
Sua austera e distanciada narrativa, magnificamente fotografada em p&b, e
cuja trilha musical, habitualmente ausente, é feito uso intenso em determinados
trechos, entremeia sua narrativa realista com cenas documentais de guerra e a
aberta fantasia com que Táko procura lidar com a ausência paterna, evocada em
momentos tais como o que assiste uma parada em honra às figuras da resistência
mortas em combate, e apenas consegue encontrar a figura paterna entre todos os
homenageados. Por mais que aponte para uma possibilidade de superação, a partir
do momento em que o personagem pela primeira vez admite a sua amada mentir sobre a figura paterna, o filme finda
com ele próprio se forçando a ir além de si para buscar algum reconhecimento
que remeta a algo que o torne tão ilustre quanto pensa ser o pai. Ou seja,
longe de esboçar qualquer sentido de superação como seria quase obrigatório no
cinema clássico e mesmo boa parte da produção contemporânea, pois seu esforço
para se afastar dessa pressão da imagem paterna acaba se dando a partir de seu
referencial. Sua modernidade se encontra
longe de excessos estilísticos, sendo quase sempre bastante demarcados os momentos
de fantasia, e mesmo nesses seus absurdos parecem ter limites que apontam
ocasionalmente mais para o cinema – caso da primeira evocação fantasiosa do
pai, em ritmo de filme de aventura – do que para uma evocação onírica-surreal.
Quando essa se dá, imediatamente fica explicitado se tratar de um sonho. O
cartaz de O Grande Ditador surge na
marquise de um cinema na época da guerra. O recurso de se voltar para o
imaginário infantil como alegoria de épocas de grande relevância para a nação
ou marcadas por um período autoritário tem sido uma constante na histórias das
cinematografias as mais diversas como a brasileira (O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias), espanhola (Cría Cuervos), alemã (O Tambor), italiana (Amarcord), francesa (Adeus, Meninos), dentre tantas outras.
MAFILM3 Játékfilmstúdió para Mokép. 98 minutos.
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