Filme do Dia: Ossos (1997), Pedro Costa
Ossos
(Portugal/França/Dinamarca, 1997). Direção e Rot. Original: Pedro Costa.
Fotografia: Emmanuel Machuel. Montagem: Jackie Bastide. Dir. de arte: Zé
Branco. Figurinos: Isabel Fávila. Com: Vanda Duarte, Nuno Vaz, Mariya Lipkina,
Isabel Ruth, Inês de Medeiros, Miguel Sermão, Berta Susana Teixeira, Clotilde
Montron, Zita Duarte.
Ao retornar do hospital com seu recém-nascido, Tina
(Lipkina) tenta se sucidiar e matar a criança com gás. Seu namorado (Vaz),
salva a criança e Tina, e leva a criança para pedir esmola nas ruas da cidade,
tentando inclusive vendê-la. Após a criança ser hospitalizada, o rapaz tenta
deixar a criança com uma enfermeira, Eduarda (Ruth), patroa de Clotilde, amiga
de Tina e uma prostituta (Medeiros). Enquanto isso Tina e Clotilde tentam
reaver a criança e se vingam do rapaz.
Com um enredo quase diluído em sua estrutura narrativa
extremamente moderna, distanciada e seca, evocativa de Bresson igualmente na
utilização de boa parte de um elenco não profissional numa busca de negação da
“interpretação”, esse filme já antecipa muitas das estratégias dramáticas do
mais interessante No Quarto da Vanda
(2000), no qual Costa radicalizará em sua opção por uma desdramatização e
ausência de enredo e motivações concretas para as ações dos personagens. Em
certo sentido, esse filme ainda pode ser tido como mais próximo de uma leitura
autoral de viés modernista no estilo alguns realizadores europeus
contemporâneos (tais como os irmãos Dardenne, que inclusive realizaram um
filme, A Criança, de temática
semelhante, mesmo guardando as devidas proporções, pois o filme dos
realizadores belgas ainda se utiliza de um estilo bem mais convencional de
apresentação da narrativa). Algo que No Quarto da Vanda, que tem como protagonista justamente a atriz principal
desse filme vivendo ela mesmo, irá de certo modo implodir, com uma proposta
estética bastante peculiar e instigante. Destaque para a cena em que o pai da
criança a segura em seu colo e tenta, sem sucesso, alimentá-la através de
alimentos mastigados por ele próprio. Também já se apresentam aqui uma opção
pela iluminação natural, que deixa boa parte das cenas numa penumbra que sequer
se percebe o rosto do ator e pela descrição cuidadosa dos ruídos no mesmo
bairro popular de Fontainhas, que serão refinadas no filme posterior. Prêmio de
fotografia no Festival de Veneza para Machuel, que foi assistente de câmera de
Bresson. Gémini Films/IPACA/Madragoa Filmes/RTP/Zentropa Ent. 94 minutos.
Comentários
Postar um comentário