Filme do Dia: Diabólicos Sedutores (1970), Harold Prince


Diabólicos Sedutores (Something for Everyone, EUA, 1970). Direção: Harold Prince. Rot. Adaptado: Hugh Wheeler, baseado no romance The Cook, de Harry Kressing. Fotografia: Walter Lassally. Música: John Kander. Montagem: Ralph Rosenblum. Dir. de arte: Otto Pischinger. Figurinos: Florence Klotz. Com: Michael York, Angela Lansbury, Anthony Higgins, Heidelinde Weis, Jane Carr, Eva Maria Meineke, John Gill, Wolfried Lier.

Konrad (York) é um astuto e ambicioso jovem recém-chegado a Bavária. Logo que percebe a atração da jovem rica Anneliese (Weis),  torna-se motorista para levar sua família a um piquenique, somente com o intuito de se aproximar dela. Rapidamente emprega-se no castelo da mais tradicional família da região, sob o comando da matriarca e viúva Condessa Herthe von Ornstein (Lansbury). Em pouco tempo ele seduz seu filho Helmuth (Higgins) e também é motivo de desejo da sua filha Lotte (Carr). Percebendo como as finanças da família vão mal, arquiteta uma glamorosa festa na qual acaba selando o casamento entre seus dois amantes, Helmuth e Annelise. Annelise em pouco tempo flagra o marido nos braços de Konrad. Esse provoca a morte dela e de sua família. Novamente despreocupados quanto ao dinheiro, a Condessa Herthe mantém uma relação amorosa com Konrad, mas seus planos de casamento, no entanto, são outros.

Longe se encontra o filme de ser uma sátira aos contos que envolvem príncipes e castelos, como sugere sua abertura, com os créditos sendo acrescentados às imagens de Konrad folheando um livro do gênero. Comum a esses, resiste a estrutura fabular. Porém numa dimensão que não deixa de explicitar a permissividade dos novos tempos. Konrad é uma espécie de anjo exterminador proveniente de um passado ignorado que atrai os desejos não apenas de toda a família aristocrática, como igualmente da burguesa nova rica. Ao contrário do protagonista do Teorema, de Pasolini, no entanto, ao invés dele destruir e desestruturar a família com a qual passa a viver, ele a revitaliza com afetividade, sexo e dinheiro. Conseguindo se libertar de todos os obstáculos que possam ser um entrave para seus objetivos, seja desmascarando o criado que o deseja ardentemente fora do castelo em seu santuário privado nazista ou mesmo provocando a morte de uma família inteira, incluindo sua amante. O filme se beneficia enormemente de seu elenco, predominantemente alemão e britânico e se aproxima muito mais de uma produção européia do que propriamente norte-americana, soando um verdadeiro corpo estranho caso pensado em relação à filmografia norte-americana contemporânea. E igualmente de seu ambiente praticamente à parte de todo o restante do mundo, como se pretende uma boa fábula. A família burguesa é mostrada em toda sua vulgaridade na seqüência do passeio. Os aristocratas em seu despudoramento com relação ao sexo, não por acaso chocando ao ponto da histeria insana a sensibilidade burguesa convencional de Annelise. E o protagonista em seu sóbrio calculismo, como quando reage ao alvoroço da amante em seu quarto simplesmente dispondo as roupas sobre o cabide, para somente após agir “selvagemente”. Trata-se quase de uma versão galhofeira, cínica e anti-realista da luta de classes através das relações sociais de afeto presentes no contemporâneo O Mensageiro, de Losey. Porém, enquanto lá a aristocracia, mesmo decadente, continua reinando sobre a burguesia, no casamento entre pares/primos, aqui é a classe trabalhadora que acaba passando a perna em ambas. O estilo evidentemente se encontra longe da pompa e da elegância do filme de Losey, porém tampouco é destituído de seu charme, sobretudo na criação atmosférica de seu prólogo e se se pensar que se trata da estréia na direção e único dos dois filmes dirigidos por Prince, mais conhecido como encenador de musicais – o seu outro é justamente uma adaptação musical de Sorrisos de uma Noite de Amor (1955), de Bergman, que já havia dirigido no palco. Talvez essas qualidades acabem encobrindo saídas fáceis e o esquematismo quase rígido que parece imperar do meio para o final, de todo modo talvez já presentes no próprio livro que serviu como fonte, e que atingem seu clímax no tolo efeito-surpresa final, que parece achincalhar de vez com qualquer propósito de verisimilitude psicológica. Cinema Center Films para National General Pictures. 112 minutos.

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