Filme do Dia: A Vida Sonhada dos Anjos (1998), Erick Zonca
A Vida Sonhada dos Anjos (La Vie rêvée des anges, França,1998).
Direção: Erick Zonca. Rot. Original:
Erick Zonca & Roger Bohbot.
Fotografia: Agnès Godard. Música: Yann Thiersen. Montagem: Yannick Kergoat. Dir. de
arte: Jimmy Vansteenkiste. Figurinos: Françoise Clavel.Com: Élodie Bouchez,
Natacha Régnier, Grégoire Colin, Jo Prestia, Patrick Mercado.
Isa (Bouchez) se encontra em péssima
situação, sem moradia e enfrentando o frio vendendo toscos cartões que ela
mesma realiza. Um homem em um bar lhe sugere que vá trabalhar como costureira
com máquinas industriais. Lá se aproxima de Marie (Régnier) e pergunta se pode
passar a noite em sua casa. Tornam-se amigas inseparáveis e quando Isa é
despedida por realizar serviço mal feito, Marie também pede suas contas. Elas
moram em um apartamento de mãe e filha que se acidentaram gravamente em um
desastre automobilístico. Isa, que eventualmente lê o diário da garota que
agora se encontra em coma, passa a se interessar por ela e a visitar
regularmente no hospital. Ao mesmo tempo, continua com Marie procurando emprego
ou correndo atrás de homens. Tornam-se amigas de dois seguranças de clubes
noturnos, Charly (Mercado), que passa a viver um relacionamento com Marie que,
no entanto, não gosta dele e Fredo (Prestia), que gosta de Isa, embora essa
deixe claro que não pretende viver nada com ele. Descobrem que o dono de um
carro de luxo que Marie chutara e quebrara uma luz é Chris (Colin),
dono da casa noturna que Charly e Fredo trabalham. Chris se aproxima de Marie e
passam a viver uma relação intensa. Vítima de sua instabilidade emocional e de
sua grande ansiedade para mudar de vida, Marie negligencia gradualmente sua
amizade com Isa, que continua a visitar a garota, fazendo leituras de seu
diário. Também termina sua ligação com Charly. A mãe da garota acidentada
morre. O irmão dela aparece e afirma que o apartamento deverá ser vendido no
final do mês. Chris aparece e diz a Isa que avise Marie que não quer mais se
encontrar com ela Angustiada com toda a situação, de eminente despejo, ira e
ilusão de Marie e a situação da garota em coma, Isa vive uma noite de profundo
desespero. O ponto final no relacionamento com Marie se dá quando Isa lhe conta
a respeito da visita de Chris e essa imagina que Isa tomara parte contra ela na
situação. Porém, quando todas as esperanças pareciam se encontrar perdidas, no
hospital ela fica sabendo que a garota voltara a reagir. Pensa em visitá-la,
mas acaba desistindo de última hora, embora não se contenha de felicidade. Retorna
ao apartamento, que já abandonara há algum tempo, e deixa uma mensagem para
Marie sobre a recuperação da garota. Quando vai saindo presencia o último gesto
de Marie, que se suicida pulando pela janela. Isa opta por continuar sua vida,
trabalhando como costureira.
Com um certo
realismo cru que lembra o universo de O
Ódio (1995), de Matthieu Kassovitz, que também trata de jovens
marginalizados na França contemporânea, o filme de Zonca, no entanto, também se
aproxima de um melodrama de cunho mais tradicional. Ao contrário de um universo
masculino, e permeado pela violência, dos bairros de imigrantes do filme de
Kassovitz, Zonca consegue descrever com
extrema sensibilidade o universo feminino das duas protagonistas francesas. O
que o filme não potencializa em termos de crítica social ele consegue aprofundar
na lírica descrição das carências econômicas e, sobretudo, afetivas de seus
personagens. Drama profundamente moral e de coloração cristã ao contrapor a
desesperança e orgulho de uma Marie que afasta-se da amizade e de outros
valores de seu mundo presente quando vê-se próxima de uma solução afetiva e
financeira para sua vida à utopia e sonho de uma Isa humilde, que sonha com a
recuperação da jovem em coma, da forma mais desinteressada possível e que não
se cansa de procurar qualquer tipo de emprego, como símbolo da necessidade de
não se perder a esperança na vida e em si próprio. A concretização da oposição
entre os dois personagens se complemente no final, onde ao suicídio de Marie se
contrapõe uma Isa que volta a trabalhar e continuar sua vida. Em grande parte o
poder do filme se deve ao telento de suas duas protagonistas, que conseguem dar
uma completa verissimilitude aos seus personagens: Bouchez, uma das maiores
interprétes do novo cinema francês, como já havia demonstrado em Rosas Selvagens (1994), de André
Techiné, que encontra um par à sua altura em Natacha Régnier, com quem dividiu
o prêmio de interpretação em Cannes. CNC/Diaphana/Canal+/ Les
Productions Bagheera/ Fondation GAN/FR 3/
Procirep. 113 minutos.
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