Filme do Dia: A Dama Enjaulada (1964), Walter Grauman
A
Dama Enjaulada (Lady in a Cage, EUA,
1964). Direção: Walter Grauman. Rot. Original: Luther Davis. Fotografia: Lee
Garmes. Música: Paul Glass. Montagem: Leon Barsha. Dir.de arte: Rudolph Sternad
& Hal Pereira. Cenografia: Sam Comer. Com: Olivia de Havilland, James Caan, Jeniffer
Billingsley, Jeff Corey, Ann Sothern,
Rafael Campos, William Swan, Charles Seel.
Velha escritora, a Sra. Hylard (Havilland), fica presa no
elevador de sua própria mansão, enquanto o filho, Malcolm (Swan), atormentado
por sua possessividade, deixa uma carta em que promete se suicidar caso ela não
atenda seu telefonema. Sua casa é invadida pelo vagabundo George (Corey) e a
prostituta Sade (Sothern), que aproveitando-se da situação, resolvem pilhar
tudo. Eles são, no entanto, surpreendidos, pela gangue juvenil liderada pelo
anárquico Randall (Caan), sua namorada Elaine (Billingsley) e o latino Essie
(Campos), que iniciam uma série de jogos sádicos que culminam com o assassinato
de George. A gangue é surpreendida por profissionais do ramo, que trabalham
para um idoso antiquário (Seel), que leva todo o produto do roubo. Com os olhos
furados pela Sra. Hylard, Randall é atropelado e finalmente os eventos
alucinantes que ocorreram na casa ganham alguma notoriedade extra-muros.
O excesso desse filme provocativo que pretendia sobretudo
chocar as platéias da época não deixa de ser percebido ainda hoje, quarenta
anos depois, tanto no seu aspecto negativo quanto positivo. As caracterizações
dos personagens, por exemplo, ao mesmo tempo que caricaturas grosseiras do que
se imaginava serem os excluídos sociais do período, ao mesmo tempo acabam
evocando uma interpretação pseudo-teatral que quase rompe com os efeitos de
verossimilhança naturalista padrões da cinematografia norte-americana. O mesmo
pode ser dito de seu tosco enredo que,
longe de crível, serve de trampolim para que o cineasta, de maneira
tipicamente voyeurista e quase mesmo perversa, visite ao menos superficialmente
o que ele acredita serem algumas das máculas da sociedade americana, sobretudo
do ponto de vista moralizante. Enquanto o drama típico de invasão domiciliar
por elementos oriundos de outro meio social conquistou sua versão mais clássica
com Horas de Desespero (1955), de
William Wyler, esse filme se encontra no meio termo entre essa visão de uma
média burguesia vitimizada pelos cruéis invasores e uma visão mais tipicamente
anti-conformista presente em produções que lhe são quase contemporâneas como Armadilha do Destino (1966), de Roman Polanski. Com personagens chapados e sem qualquer profundidade psicológica, à
guisa dos cacoetes que cada um representa no meio social – a matrona
arrependida, o transviado latino, a prostituta de bom coração – se chega a uma
espécie de teatro bufo, que pouco ou nada de substancial consegue extrair. Por
exemplo, a perda de “dignidade” da dama de modos aristocráticos ao início do
filme e descabelada após uma resignada persistência no elevador enguiçado
sugere algo semelhante aos retratos da decadência da pose burguesa em uma
situação extremada tal e qual O Anjo
Exterminador (1962), de Buñuel, mas fica nisso e logo se dissipa. Para
ilustrar ainda mais sua tentativa de criar um micro-cosmo do absurdo na mansão,
são introduzidos ocasionalmente alguns planos que descrevem o transcorrer das
banais atividades cotidianas a poucos metros da casa. A mescla do absurdo com o
cotidiano se dá com a saída da protagonista completamente tresloucada e o delinquente para o “mundo exterior”, que continua os ignorando por completo até
que se suceda uma morte. Porém, quando se compara tal representação da postura
semelhante de Buñuel nos planos que apresenta o espaço externo à mansão onde se
encontram confinados seus personagens, percebe-se a ausência de sutileza e o
que poderia ser considerado de um escracho saudável se transforma em
lugares-comuns banais sobre o individualismo moderno – representando pelas
buzinas incessantes que pouco se importam com o atropelamento do delinquente. AEC/Luther
Davis Prod. para Paramount Pictures. 94 minutos.
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