Filme do Dia: Agarrando Pueblo (Los Vampiros de la Miseria) (1977), Carlos Mayolo & Luis Ospina



Agarrando Pueblo (Los Vampiros de la Miseria) (Colômbia, 1977). Direção: Carlos Mayolo & Luis Ospina.  Rot. Original: Carlos Mayolo. Com: Luis Carlos Londoño, Carlos Mayolo, Ramiro Arbelaéz, Eduardo Carvajal, Javíer Villa, Fabián Ramírez, Astrid Orozco, Jaime Ceballos. Fotografia: Eduardo Carvajal, Enrique Forero & Fernando Vélez. Montagem: Luis Ospina.

Através dessa sátira aos cineastas que apenas pretendem captar a miséria para exportá-la a Europa, enquanto se torna motivo de sobrevivência para alguns realizadores latinos, percebe-se, mais que tudo, que a reflexão a respeito da relação com a captção da imagem já se tornou bem mais complexa que nos idos tempos de um cinema latino engajado, tal como presente em filmes como Tiré Dié (1960), de Fernando Birri ou Revolución (1963), de Jorge Sanjinés.Acompanha-se um grupo de documentaristas que irrefletidamente buscam loucos, prostitutas e miseráveis para uma produção a ser enviada para a Alemanha. Eles não se escusam em contratar um casal e seus filhos para se fazer passar por miseráveis ou pedir que crianças se dispam e vão tomar banho em uma fonte para conseguirem alguns trocados (numa imagem que remete perversamente aos idos da própria captação cinematógrafica, com Boys Diving, Honululu de 1902,  ou Kavakas Dying for Money n.2, de 1898). Quando encontram uma moradia miserável, no qual o proprietário não se encontra, começam a filmar com a família contratada. Esse retorna furioso e não pretende estabelecer nenhum tipo de negociação com quem invadiu sua propriedade, ainda que pelo apelo do dinheiro – e a cena na qual baixa as calças e simula se limpar com o dinheiro remete a uma certa radicalidade da época, tal como a presente em filmes como SuperOutro. Tal pretensão de radicalidade, no entanto, talvez seja arrefecida somente pelo seu excessivo esquematismo, algo evocativo do de Sérgio Bianchi e por seu final, aonde o próprio grupo, destituído das limitações ficcionais, comenta sobre o próprio projeto e se posiciona abertamente contra tal tipo de elaboração de imagem perversa – em grande parte, guardadas as suas diferenças, presente ainda em boa parte do universo audiovisual. Dito isso, por mais  reflexividade que consiga estabelecer, encontra-se longe da intensidade dos filmes de Birri ou Sanjinés – e a destituição de qualquer preocupação ideológica por parte dos realizadores aqui caricaturados tampouco supõe uma crítica a geração engajada precedente. 28 minutos e 33 segundos.

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