Filme do Dia: Senhoritas de Uniforme (1958), Géza von Rádvanyi





Senhoritas de Uniforme (Mädchen in Uniform, Al. Ocidental, 1958). Direção: Géza von Rádvanyi. Rot. Adaptado: Friedrich Dammann & Franz Höllering, a partir da peça Ritter Nerestan, de Christa Winsloe. Fotografia: Werner Krien. Música: Peter Sandloff. Montagem: Ira Oberberg. Cenografia: Emil Hasler & Walter Kutz. Figurinos: Manon Hahn. Com: Lili Palmer, Romy Schneider, Therese Giehse, Blandine Ebinger, Adelheid Seeck, Gina Albert, Sabine Sinjen, Christine Kaufmann.

Prússia, 1910. Manuela von Meinhardis (Schneider) é uma jovem que é deixada pela tia, após a morte da mãe, num rígido internato feminino, comandado pela draconiana diretora da instituição (Giehse). Lá ela apenas consegue amparo para sua dor na figura da atenciosa professora Elizabeth von Bernburg (Palmer), por quem se apaixona. Após a apresentação de uma versão de Romeu e Julieta, na qual encarnava Romeu, Manuela, bêbada, declara em alto e bom tom seu amor pela professora, provocando polvorosa na casa e recebendo ordem da diretora para ser mantida sem contato com as outras alunas. A diretora tem uma dura conversa com Elizabeth, na qual essa não recua um passo de sua posição e ainda critica a postura autoritária da mesma. Manuela consegue escapar da enfermaria e se encontrar furtivamente com Elizabeth. Quando Elizabeth afirma que irá deixar a instituição, Manuela remete a ideia de suicídio e quase o pratica de fato, sendo impedida de se jogar da escadaria por um grupo de meninas. Levada a enfermaria, é velada por ninguém menos que a própria Elizabeth, que é convidada pela diretora a não mais abandonar a escola.

Produzido em um momento no qual a homossexualidade começa a ser discutida de forma mais incisiva pelo cinema internacional (uma história envolvendo igualmente a questão do internato e homossexualidade, agora masculina, Chá e Simpatia, fora produzido nos Estados Unidos dois anos antes e Infâmia, de três anos após gira em torno das acusações de uma aluna sobre duas professoras serem lésbicas), esse filme é uma nova versão de um clássico produzido em 1931. Pode ser considerado como um representante típico de um cinema que seria abertamente criticado pelos cineastas alemães da década seguinte, por conta de suas narrativas romanescas e falta de contato com a realidade contemporânea do país, assim como por seu estilo de encenação – ainda que mais bem efetivado que o de filmes produzidos durante o nazismo, tais como os de Veit Harlan. Inicia de uma forma mais ostensivamente lésbica, ao retratar o universo fechado – são raras as cenas externas – e destituído de qualquer figura masculina, sendo essas observadas ao longo de todo o filme não mais do que em fotografias em um dado momento. Aos poucos, no entanto, o que havia se anunciado, já a partir do primeiro contato visual, como uma situação imediata de atração mútua, entre a professora e sua nova pupila, ganha conotações de maior ambiguidade, mesmo sendo o filme certamente progressista em relação a maior parte do que era produzido no período com temática semelhante. Vivida por uma espécie de versão prévia de Julie Andrews, analogia que se torna ainda mais próximo a partir do estilo de fotografia, cenografia e figurino, a personagem de Lili Palmer mesmo não explicitando qualquer comprovação de retorno em relação ao que fora tornado público por sua aluna, tampouco se resigna a ter sua opção sexual posta em questão pela diretora. E até mesmo chega a insinuar que a própria conduta delas, e particularmente no caso da diretora acabou se revelando por uma postura autoritária enquanto direcionamento de uma sexualidade frustrada. E quando essa, ao final, afirma que ela é que pretende partir e que a professora é a pessoa certa para comandar a escola, fica sinalizada uma postura que apela bem mais para  o melodrama; porém um melodrama que já não mais aceita o final trágico que era habitualmente reservado aos personagens gays e lésbicos (tal como observado em boa parte das produções anglo-saxãs em O Celulóide Secreto). De fato, sinaliza-se para um avanço progressista, mas esse fica, tal como os próprios sentimentos da professora, apenas sugerido, mais que concretizado em um final tipicamente feliz (tal, como em um exemplo brasileiro similar, Aves sem Ninho, cuja diretora, também é retratada de forma caricata, mas que não lida com a questão do lesbianismo, observado apenas de forma muito marginal em determinada sequencia). O filme não se furta em apresentar um beijo entre as protagonistas, mesmo que mascarado como ensaio para a representação teatral. CCC/Les Filmes Modernes para Gloria. 95 minutos.

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