Filme do Dia: Sede de Viver (1956), Vincente Minnelli


Sede de Viver (Lust for Life, EUA, 1956). Direção: Vincente Minnelli. Rot. Adaptado: Norman Corwin, baseado no romance de Irving Stone. Fotografia: Russell Harlan & Freddie Young. Música: Miklós Rózsa. Montagem: Adrienne Fazan. Dir. de Arte: F. Keogh Gleason & Edwin B. Willis. Com: Kirk Douglas, Anthony Quinn, James Donald, Pamela Brown, Everett Sloane, Niall MacGinnis, Henry Daniell, Madge Kennedy, Lionel Jeffries, Jeanette Sterke, Toni Gerry. .
     Vivendo em uma sociedade puritana e muito atenta às aparências, Van Gogh (Douglas), passa a ser alvo dos comentários da vizinhança por sua reclusão, anti-sociabilidade e modo de vestir rude. Ele, porém, não se importa, e passa o dia pintando os trabalhadores das redondezas, um motivo que afirma ninguém antes se interessara. Embora acredite em Deus, suas convicções são antes íntimas que clericais, para desgosto de seu pai, o pastor Theodorus (Daniell). Apaixona-se pela prima Kay (Sterke), viúva e com filho pequeno, que Van Gogh dispõe a ter como filho, sendo que a prima o rejeita. Após a morte dos pais vai viver as custas do irmão mais bem sucedido, Theo (Donald), com a ex-prostituta Johanna (Gerry), mãe de um bebê. Apesar de reconhecer que ele fez mais por ela que qualquer outro dos homens que conhecera na vida, ela se cansa das dificuldades financeiras provenientes dele não conseguir vender seus quadros. Tenta algo com o influente Roulin (MacGinnis), que apesar de lhe ajudar com material de pintura, não chega a auxiliá-lo de forma mais concreta. Apaixonado pela arte de Cezanne e Gaughin (Quinn), a quem conhece, admira e se torna amigo, Van Gogh dividirá uma casa com o mesmo. Porém, logo os conflitos e a diversidade de temperamentos se acirra. Extremamente sensível, Van Gogh é questionado tanto em termos de caráter como de rigor artístico por Gaughin, que acredita que sua alegada entrega total aos sentimentos não passa de um condescendência com o que produz. Da mesma forma que, amante da vida e da violência, não suporta ver Van Gogh a todo momento se lamuriar de tudo, afirmando que ele idealiza os trabalhadores, porque nunca teve que trabalhar. Por outro lado, não passa de subverter a todo momento as técnicas de pintar, como nos momentos em que prefere enfrentar a forte ventania provocada pelo Mistral para conseguir reproduzir adequadamente a força do vento em seus quadros. Cansado dos conflitos constantes com Van Gogh e sem dinheiro, Gaughin abandonará a casa, para desespero do amigo, que o segue com uma faca, mas que na hora de enfrentá-lo toma consciência de sua completa impotência. Corta então a própria orelha. Avisado por Gaughin, Theo encontra Van Gogh no hospital e, a pedido do próprio, interna-o em um manicômio, acreditando que será mais seguro tanto para os outros como para ele próprio. Inicialmente separado de seu material de pintura, aos poucos faz com que os médicos acreditem que sua recuperação se encontra associada à sua pintura, ainda que os excessos devam ser coibidos. Porém uma nova crise o ataca, no momento em que pinta. Após sua recuperação vai à Paris ao encontro do irmão e sua esposa, e do recém-nascido sobrinho que leva seu nome. Ao chegar recebe a notícia de que seu primeiro quadro foi vendido. Logo uma nova manifestação de loucura o acometerá e ele passa aos cuidados do Dr. Gachet (Sloane), espírito liberal e amante das artes, que possui uma vasta coleção de pintura em sua casa e é apaixonado pelo trabalho de Van Gogh. Porém logo ele perceberá que “um espírito conturbado guiando outro não pode ir muito longe”. Quando pinta uma tela que retrata corvos sobre o milharal atira contra si próprio. Embora escapando com vida, morre logo após no hospital, conversando com o irmão.
     Essa biografia grandemente acadêmica - certamente destoante do próprio espírito do retratado - não deixa de ter seu charme. Com uma direção de arte e fotografia que procuram retratar o universo pictórico de Van Gogh, Minnelli conseguiu um razoável senso de distanciamento do que retrata em alguns momentos. Porém  predomina  a interpretação teatral e pesada e os excessos dispensáveis da trilha musical do veterano Rózsa. Da mesma forma são obscurecidos os aspectos menos “familiares” do biografado, como a decadência econômica dos pais e o seu relacionamento com a ex-prostituta, que apenas subliminarmente é referido, assim como a sífilis adquirida pelo irmão, aqui apresentado como o exemplo típico de sujeito adaptado à vida burguesa de esposo e pai. O melhor do filme são as constantes relações de personagens e - principalmente - paisagens com quadros famosos do pintor, apresentando de forma quase didática as várias fases e influências do mesmo. O pior do filme é quando acaba para descambar, em certos momentos, para o melodrama grosseiro, como na cena em que a cidade em peso vem ridicularizar o artista após esse ter cortado a orelha, buscando uma identificação emotiva fácil demais para ser efetiva. Em certos aspectos, é um típico produto da época em que foi produzido, da estilização dos cenários à utilização da cor como ressaltando uma dimensão mais onírica que propriamente realista. Altman recontou a história de uma forma bem menos grandiloquente em Van Gogh - Vida e Obra de um Gênio (1990), embora Roth, que vive Van Gogh no filme, esteja mais próximo de Kirk Douglas que do auto-retrato do pintor e o hospício, tal como apresentado aqui, seja menos estereotipado que o do filme de Altman. George Cukor, ainda que não creditado, dirigiu algumas tomadas. MGM. 122 minutos.

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