Filme do Dia: O Cangaceiro (1953), Lima Barreto


O Cangaceiro (Brasil, 1953). Direção e Rot. Original: Lima Barreto. Fotografia: Chick Fowle. Música: Gabriel Migliori. Montagem: Oswald Hafenrichter. Dir. de arte e Figurinos: Caribé. Cenografia: Pierino Massenzi. Com: Alberto Ruschel, Marisa Prado, Milton Ribeiro, Vanja Orico, Ricardo Campos, Adoniran Barbosa, Neusa Veras, Zé do Norte, Galileu Garcia.
     Olívia (Prado), que trabalha como professora é raptada por um grupo de cangaceiros, liderados pelo temido Galdino (Ribeiro), porém desperta a paixão de Lugar-Tenente do bando que não é completamente mau caráter, Teodoro (Ruschel), que passou forçosamente a ser membro do grupo de Galdino após ter tido seus parentes massacrados pelo mesmo. Inicialmente relutante em travar contato com Teodoro, a professora aceita fugir com ele. Galdino, que tem sua esposa, Maria Clódia (Orico), apaixonada por Teodoro, agora tem mais um motivo para entrar em atrito com o mesmo. Os cangaceiros partem em perseguição ao casal, derrotando uma volante no meio da empreitada. Após um cruel tiroteio, em que o próprio Galdino é ferido, Teodoro é morto aos pés da amada.
     A reprodução do modelo hollywoodiano seja no seu estilo clássico de montagem e no preciosismo visual da imagem seja no próprio conteúdo, recheado de gags e leitmotifs de idêntica origem (sendo a mais ridícula delas a mania que Galdino tem de assoprar sobre um dos anéis que usa, tal e qual Scarface com seu assovio e moeda em Scarface – A Vergonha de uma Nação) é meramente tributária da maciça influência norte-americana sobre o ciname brasileiro. Da forma de beijar do casal de heróis ao enquadramento do bando de cangaceiros partindo em seus cavalos tudo soa demasiado americano nesse faroeste cabloco. A inclusão de algumas pitadas de regionalismo nos diálogos (escritos por Rachel de Queiroz), nas danças e na música soa quase tão inconvincente quanto a exotização da América do Sul por Hollywood na década anterior. Inicia, de qualquer maneira, um gênero nacional que terá que esperar dez anos, até Deus e o Diabo na Terra do Sol, para realmente tocar de modo aprofundado em elementos da cultura regional, ao mesmo tempo fazendo uma relação com a questão social e criando uma nova estética que bem pode ser comparada, em termos formais e a seu modo, a revolução que a Nouvelle Vague operará sobre o igualmente anêmico cinema acadêmico francês da década de 1950. Prêmio de Melhor Filme de Aventura no Festival de Cannes. Vera Cruz. 90 minutos.

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