Filme do Dia: Bonitinha, mas Ordinária (1981), Braz Chediak



Bonitinha, mas Ordinária (Brasil, 1981). Direção: Braz Chediak. Rot. Adaptado: Gilvan Pereira, Sindoval Aguiar, Jorge Leclette & Doc Comparato, baseado em peça homônima de Nélson Rodrigues. Fotografia: Hélio Silva. Música: John Neschling. Montagem: Rafael Justo Valverde. Cenografia: Arthur Maia & Neyd Benasconi. Figurinos: Marisa Massari. Com: Lucélia Santos, Vera Fischer, José Wilker, Milton Morais, Carlos Kroeber, Monah Delacy, Mirian Pires, Sônia Oiticica, Xuxa Lopes, Cláudia Ohana, Henriette Morineau.

Edgar (Wilker) é escolhido por Maria Cecília para seu marido. Ele trabalha na firma do rico Werneck (Kroeber), que busca o casamento como forma de redimir socialmente a filha estuprada por cinco negros. Edgar aceita o “contrato”, apesar de seu interesse pela vizinha Ritinha (Fischer), arrimo de família e guardiã moral de três irmãs mais novas (Oiticica, Lopes, Ohana) que vivem com a mãe (Pires) senil. Chocado com a falta de escrúpulos de Peixoto (Morais), genro de Werneck, Edgar tem seu caráter posto à prova pelo cheque milionário concedido por seu futuro sogro. Ritinha confessa a Edgar que também fora vítima de violência sexual de um ex-patrão oportunista, que prometera livrar sua mãe da acusação de roubo e que a imagem de mulher séria e professora acoberta uma prostituta. Edgar comparece com Peixoto a uma festa organizada por Werneck em que as irmãs de Ritinha são violadas. Peixoto revela a Edgar que Maria Cecília na verdade planejara a sua própria curra. Abandona a mansão, enquanto Peixoto mata Maria Cecília e depois se suicida. Edgar volta a encontrar Ritinha, queima o cheque milionário e decide reconstruir sua vida do nada.

Versão pouco imaginativa em que a força dos diálogos de Rodrigues se perde em meio a tantas precariedades que vão da anêmica construção da atmosfera à própria direção de atores, assim como a ausência de sutileza que são construídos tanto cenas como personagens. A Maria Cecília criada por Santos, exemplo mais óbvio, deixa de ser a presença no limite da ambigüidade entre inocência e perversão da primeira adaptação para o cinema (dirigida por J.P. de Carvalho em 1964) para se tornar uma dissimulada já a partir de suas primeiras aparições, quando cinicamente escolhe o futuro marido como uma carta no baralho. O Werneck vivido por Kroeber, por sua vez, está longe de reproduzir a personagem delirantemente insana vivida brilhantemente por Fregolente no filme de Carvalho. A insipidez da seqüência orgiástica na casa do milionário dá bem o tom que diferencia uma das primeiras produções a fugir dos ridículos cacoetes maneiristas (Meu Destino é Pecar) ou de uma pretensiosidade mal sucedida (O Beijo) das adaptações anteriores de Rodrigues dessa em questão, onde tudo é motivo para exibir corpos nus e vulgaridade gratuita (como quando Ritinha afirma que ficou molhadinha ao se aproximar a primeira vez de Edgar). No contraste entre a riqueza do texto e as interpretações pouco convincentes, moldadas por uma aspereza no uso dos recursos cinematográficos (como o indigente trabalho de câmera) típica de Chediak, obtém-se um resultado final de péssima qualidade. O final, já mal resolvido na primeira versão, provoca uma potencial dose de humor involuntário de tão tosco. Porém, e mais importante, o conflito vivido por Edgar de não querer aceitar ser o duplo de Peixoto, fundamental para o sucesso de qualquer adaptação da peça, aqui não chega tampouco a ser bem desenvolvido. Sincrocine Prod. Cinematográficas/WV Filmes/Condor Filmes. 105 minutos.

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