Filme do Dia: A Menina da Rádio (1944), Arthur Duarte
A Menina da Rádio (Portugal, 1944). Direção: Arthur Duarte. Rot. Adaptado: Fernando Fragoso & Joâo Bastos a partir de poemas de João Bastos e do poema Sonho de Amor, de Silva Tavares. Fotografia: Aquilino Mendes. Música: António Melo. Montagem e Dir. de arte: Arthur Duarte. Figurinos: Mouton Osório. Com: Maria Matos, António Silva, Maria Eugenia, Francisco Ribeiro, Óscar de Lemos, Curado Ribeiro, Teresa Casal, Ainda Ultz, Maria Olguim.
Cipriano Lopes (Silva) é dono de uma confeitaria que faz uso da música para atrair os fregueses, irritando a comerciante vizinha, D. Rosa Gonçalves (Matos). O filho de D. Rosa, Óscar (Lemos), no entanto, gosta de música e é apaixonado pela filha de Cipriano, Geninha (Maria Eugenia). O movimento para criação de uma rádio para o bairro local por Cipriano não é bem aceita pelos sócios mais conservadores da associação comercial, sobretudo D. Rosa. Certo dia, por incidente, o jovem cantor da rádio mais ouvida do país, Fernando Verdial (Curado Ribeiro), vai a casa dos Lopes. Óscar cede por cortesia o seu casaco para Verdial. Ao deixar cair a canção de Óscar do casaco, com a dedicatória a Geninha, provoca uma crise de ciúmes na namorada de Verdial, Teresa (Casal), também cantora de rádio. A primeira transmissão da rádio se torna um fiasco por conta do alcoolizado locutor Fortunato (Francisco Ribeiro), aliado de D. Rosa. Teresa arma uma situação para pegar em flagrante o namorado e provoca um mal entendido que separa Óscar de Geninha. A descoberta da composição Sonho de Amor faz com Verdial decida cantá-la. Na noite em que a canção será cantada por todas as vozes do elenco da rádio, Geninha não aparece para cantá-la e todos saem em sua busca, a encontrando com D. Rosa. Quando todos vão embora, Cipriano declara seu amor pela viúva. A noite é um sucesso. Tempos depois, comemora-se o sucesso da Rádio Estrela.
Com todas suas infinitas limitações, essa comédia musical escapista, típico produto da cinematografia que era produzida nos anos de ouro do salazarismo, com sua trama repleta de peripécias, possui certa semelhança com as chanchadas brasileiras de pouco depois. Descontadas, evidentemente, um senso de humor despido do deboche mais agressivo das produções brasileira e uma produção bem mais cuidada. Aqui, no entanto, a trama não parece ser subserviente aos números musicias da mídia mais popular de então, o rádio, como na maior parte das chanchadas. Tampouco são ressaltadas diferenças entre as classes sociais, algo que será sublinhado de modo caricato, e como fundamental elemento de deboche, nas comédias brasileiras. O repertório, evidentemente, bem distante dos sambas ou marchinhas de carnaval das produções brasileiras, é de um lirismo adocicado tampouco ausente das produções nacionais, sobretudo as que se pretendiam mais elevadas culturalmente (como Argila, de Mauro). Infelizmente, poucos são os achados efetivamente cômicos, com a sutileza dos seus momentos finais, nos quais apresenta justamente o trio de funcionários da viúva, que ensaivam escondidos dela, finalmente apresentando satisfeitos sua arte para o público. É mais do que evidente, como no melodrama, o desprezo pelo verossímil sobretudo na mudança de atitude de Cipriano e Rosa, algo que se perpetuaria nas telenovelas. Destaque para o carisma que Maria Eugenia e Óscar de Lemos emprestam aos seus personagens, um degrau acima talvez das mais empostadas atuações do elenco como um todo. Ostensivamente filmado em estúdio, ao contrário de produções anteriores como A Canção de Lisboa (1933). Cia. Portuguesa de Filmes/Tóbis Portuguesa. 106 minutos.
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