Filme do Dia: Satansbraten (1976), Rainer Werner Fassbinder

Satansbraten (Alemanha, 1976). Direção e Rot. Original: Rainer Werner Fassbinder. Fotografia: Michael Ballhaus & Jürgen Jürges. Música: Peer Raben. Montagem: Gabi Eichel & Thea  Eymész: Ulrich Bode & Kurt Raab. Com: Kurt Raab, Margit Carstensen, Helen Vita, Volker Spengler, Ingrid Caven, Y Sa Lo, Ulli Lommel, Armin Meier, Katherina Buchhammer, Vitus Zeplichal, Brigitte Mira.
O poeta romântico Walter Kranz (Raab), sem conseguir a muito tempo escrever, vivencia um cotidiano completamente anárquico em sua casa, onde vive com uma mulher/empregada, Louise (Vita), que aceita tudo – inclusive que Walter traga prostitutas e transe com elas na sua frente – e o irmão débil mental Ernest (Spengler), obcecado por moscas. Vivendo como gigolô de suas ricas amantes, Walter assassina uma em um jogo erótico e é seguido por um investigador (Lommel) e por uma admiradora paranóica de personalidade fraca, Andrea (Cartensen). Em meio a todo esse caos, Louise descobre que o poema que Walter escrevera era de Stefan George e cria um verdadeiro culto a sua personificação de George, tentando inutilmente aderir à prática homossexual. Cada vez mais enfraquecida Louise morre  e Walter, após uma aparente manifestação extrema de consternação,  reinicia toda sua corte babélica com a chegada de uma de suas ex-amantes, Lisa (Caven), que logo irá ocupar o lugar da esposa.
Essa anárquica e hiper-realista comédia de Fassbinder, histérica até mesmo para os padrões de alguns filmes do cineasta, inicia com um ritmo completamente alucinado – poder-se-ia até pensar na influência da screew ball comedy americana como ponto de partida para a série de eventos que vão se sucedendo interminavelmente. Por outro lado, mesmo com todo seu ritmo vertiginoso, existe também espaço para longos trechos de diálogos. Cartensen se encontra impagável como a caricatura da figura feminina frágil e provinciana que é estuprada por Ernest. Seu tom excessivamente over, mesmo que atraente principalmente para as platéias jovens e inconformistas – existe, inclusive exibição da genitália masculina em vários momentos – no final resulta ser também cansativo e, paradoxalmente, mais acessível à primeira vista que a atmosfera mais gélida permeada por interpretações ultra-contidas de seus primeiros filmes. Apenas superficialmente, pois se aqui o tom é exagerado, nem por isso o cineasta busca qualquer pretensão realista, fazendo que as interpretações quase circenses do elenco soem tão desnaturalizantes quanto a contenção em seus primeiros filmes. Mais uma vez o cineasta procura na figura do protagonista metaforizar a condição de prostituição do artista diante de sua obra – tema presente igualmente em Precaução diante de uma Prostituta Santa – no qual a figura esquizóide de Walter é tanto modelada no idealismo sacrossanto do romantismo quanto na busca obsessiva de ganhos materiais a qualquer custo. Albatroz Filmproduktion/Tango Film. 112 minutos.

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