Bessie Smith (Nobody Knows You When You're Down And Out, 1929) Jazz Legend
Não há necessidade de discorrer longamente a respeito de Bessie Smith, a artista mais magnífica que já surgiu em qualquer área do jazz, pois suas numerosas gravações formam uma espécie de auto-retrato. Se dermos o devido desconto pelas deficiências técnicas (elas foram colhidas, em sua maior parte, entre 1923 e 1927) veremos que esses registros nos mostram Bessie Smith em sua inteireza, com exceção da densa radiação de poder e feminilidade com que ela hipnotizava o público ao vivo. Ela "dominava o palco" diz um antigo guitarrista. "Você nem mexia a cabeça enquanto ela estivesse se apresentando. Ficava só olhando para Bessie. Não se lia jornais em nightclubs onde ela se apresentasse. Ela só deixava você triste." Ela era uma mulher grande, bela, rouca, bêbada e infinitamente triste: "Ela gostava de cantar blues devagar; não queria coisas rápidas." Ela era aquela coisa rara no jazz, ou em qualquer outra parte, uma grande artista trágica, mesmo em seus momentos de exultação; e ninguém tinha mais poder de exultação do que Bessie cantando "Got the world in a jug, got the stopper in my hand" ou "I'm as good as any woman in your town".
Ela tinha sido criada nas favelas de Nashville, Tenneessee, e nos shows itinerantes (travelling tent shows) do sul. Ficou sozinha a vida toda, e cantou a transitoriedade do dinheiro, dos amigos, da bebida e dos homens, com a amargura desconfiada das pessoas que sabem que "Não se pode confiar em ninguém, o melhor é ficar só". Artistas menores, ou menos perceptivos, na alegria temporária dos "bons tempos", esqueciam-se das agruras da vida isolada fora das comunidades. Isso não acontecia com Bessie, para quem o refrão padrão do cantor de blue, "You must reap just what you sow" - você colhe apenas o que planta - tinha uma realidade constante e terrível. Uma rebelde amarga e invencível, ela morreu em um acidente de automóvel no sul. Não houve ninguém como ela.
(Eric J. Hobsbawn, História Social do Jazz, p. 131)
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