O exemplo mais efetivo dessa estratégia envolve uma apática "orgia" a quatro com um homem de negócios, uma secretária, uma prostituta e um assistente do sexo masculino. Godard e Mieville encenam as fantasias sexuais do homem de negócios, que tomam a forma de sonhos eróticos tecnocráticos - a taylorização da produção sexual. Nessa fantasia utilitária, na qual Jeremy Bentham se une a Wihelm Reich, o sexo é programado e disciplinado sobre o olhar panóptico empresarial. O chefe planeja as obras e define os procedimentos. Como um cineasta, ele prescreve movimentos, atitudes e posturas a seus "atores". (...) A cada participante é atribuído um ditongo "ai!" "ei!" - presumivelmente o significado de um desejo selvagem - que ele ou ela repetem a intervalos regulares. (...) O sexo alphavilleano é apresentado como uma máquina eficiente, sendo a libido disciplinada pela lógica do lucro e da exploração. Os trabalhadores do sexo são dessensibilizados, sem qualquer emoção. O chefe exerce suas prerrogativas patriarcais ainda que, em última instância, não possa usufruir de seu prazer. O personagem de Isabelle lê sua face e encontra "orgulho sombrio, desespero terminal, arrogância e medo." Tudo isso, desnecessário dizer, é grandemente anti-erótico. Não existe corpos se contorcendo; existe somente a multiplicação vazia de significados sexuais numa espécie de fórmula caricatural de uma orgia, uma orgia traduzida como signo paródico.

(Sobre um trecho de "Salvem Quem Puder (A Vida), 1980". Robert Stam. Subversive Pleasures, p. 175).

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