Filme do Dia: Desesperado (1947), Anthony Mann
Desesperado (Desperate, EUA, 1947). Direção: Anthony Mann. Rot. Original: Harry
Essex & Martin Rackin, a partir do argumento de Anthony Mann & Dorothy
Atlas. Fotografia: George E. Diskant. Música: Paul Sawtell. Montagem: Marston
Fay. Dir. de arte: Albert S. D’Agostino & Walter E. Keller. Figurinos:
Darrell Silvera. Com: Steve Brodie, Audrey Long, Raymund
Burr, Douglas Fowley, William Challee, Jason Robards, Paul E. Burns, Ika
Grüning.
O jovem casal, composto pelo
caminhoneiro Steve (Brodie) e a dona de casa Anne (Long) se preparam para
comemorar o primeiro aniversário de sua união, quando Steve recebe uma
irrecusável encomenda bem paga de Walt Radak (Burr). Quando fica sabendo que
seu ofício será transportar mercadoria roubada, nega-se e gera uma situação na
qual se torna refém do grupo, mas consegue alertar a polícia. Na confusão, o
irmão jovem de Walt é capturado pela polícia. Steve e Anne vão se refugiar na
casa dos tios dela, os imigrantes tchecos Jan (Burns) e Klara (Grüning), após
uma fuga onde passam por várias dificuldades relacionadas a um carro alugado e
a uma carona com um xerife local. Após acomodados junto aos tios de Anne, Steve
resolve se apresentar à polícia. O tenente Ferrari (Robards), mesmo não
acreditando em sua versão, deixa-o livre para tentar conseguir prender a
quadrilha. Walt, nesse momento, após se recuperar dos ferimentos em um
tiroteio, já sabe do paradeiro do casal, por conta do detetive que contratou.
Na noite em que seu irmão se encontra prestes a ser morto pela justiça, ele
também pretende matar, no mesmo horário, Steve.
É admirável a forma como o filme
contrasta, em seus primeiros minutos, a limpidez da casa e das faces dos
recém-casados, com sua vidinha pacata e sem maiores ambições, com a sordidez
sombria que acompanha o ambiente e as faces do grupo de criminosos, distinção
que persiste em continuar mesmo quando o herói divide o espaço com a gangue, como
no interior do caminhão, onde observamos sua face plenamente iluminada enquanto
a do carona é marcada pelas sombras de uma grade que parece sinalizar para a
promessa de justiça final. Dito isso, assim como do bom ritmo com o qual
constrói a fuga e boas interpretações do elenco em geral, o filme também
apresenta seus furos, desde o garoto xereta do apartamento onde vive o casal,
simplesmente desaparecido a partir de determinado momento sem dizer exatamente
ao que veio até a relativa incapacidade de manter seu ritmo tenso com a mesma
galhardia do início; em parte, talvez por conta dos modestos valores de
produção em relação à produção padrão hollywoodiana da época. Com um estilo
visual bastante reminiscente das produções da década anterior, somado ao estilo
que celebrizou o noir, com direito a um jogo de luzes que transforma os vilões
em figuras quase pestilencialmente
demoníacas a determinado momento, torna-se quase uma versão “benigna” de road
movies que seguem igualmente casais, esses de fato criminosos, em distintas
gerações como Mortalmente Perigosa(1950), Bonnie & Clyde (1967), Louca Escapada (1974) ou Assassinos
por Natureza (1994). RKO Radio Pictures. 73 minutos.
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