Filme do Dia: Gaviões e Passarinhos (1966), Pier Paolo Pasolini
Gaviões e Passarinhos (Uccellacci e Uccellini, Itália, 1966). Direção e Rot. Original: Pier Paolo Pasolini. Fotografia: Mario Bernardo & Tonino Delli Colli. Música: Ennio Morricone. Montagem: Nino Baragli. Dir. de arte: Luigi Scaccianoce. Figurinos: Danilo Donati. Com: Totó, Ninetto Davoli, Ferni Benussi, Rossana Di Rocco, Renato Capogna, Pietro Davoli, Lena Lin Solaro, Gabriele Baldini.
O velho Totó (Totó)
e seu filho Ninetto (Davoli) cruzam a Itália caminhando. No meio do caminho
acabam encontrando um corvo, que lhes conta uma parábola sobre dois
franciscanos (Totó e Davoli) que, nos
anos de 1200, são instigados por São Francisco a converter falcões e
passarinhos. Após uma longa e paciente temporada de mais de um ano, Totó
consegue converter os falcões. Com os passarinhos, a chave para a conversão se
encontra não no assovio, mas no modo de se mover pulando, algo que Totó
descobre acidentalmente quando observa Ninetto. Porém, após a sofrida conversão
de ambos, os frades testemunham a morte de um passarinho por um
falcão. Chocados e com lástimas eles reportam tudo a São Francisco, que afirma
que eles devem retornar do zero para buscar a pacificação entre as espécies.
Cansados do discurso do corvo e esfomeados, Totó sugere a Ninetto que devem
comer o corvo. Saciados, seguem o seu caminho.
Evidente
ajuste de contas de Pasolini com a forte influência neo-realista de seus dois
primeiros longas (Mamma Roma e Accattone - Desajuste Social), sendo Rossellini
citado, ao lado de Brecht, explicitamente como algo superado. Superação que
parece igualmente levar em conta o final do ideário comunista representado pelo
líder Togliatti, então recentemente falecido. O resultado final, que ganha
colorações iniciais de uma vibrante fábula, com direito a uma originalíssima
apresentação da equipe técnica e elenco através de uma canção farsesca, torna-se progressivamente cansativo, sobretudo devido a ausência de efetiva
comicidade em seu painel alegórico. A consciência humanista, cristã, bem
intencionada e lacunar no que diz respeito às diferenças de classe representada
por Rossellini, associada ao discurso marxista mais próximo de Togliatti são
“superados” através de um canibalismo que remete não apenas a exercícios
metafóricos posteriores na carreira do cineasta (notadamente o mais sofisticado
e lírico Pocilga) como ao tom
abertamente anti-naturalista e épico do cinema de Gláuber Rocha. Destaque para
a belíssima fotografia em branco e preto e para a utilização expressiva de
rostos populares que, associados a uma certa composição de cena, sofisticada em
seu aparente despojamento, tornar-se-ão recorrentes na filmografia do cineasta
(vide a Trilogia da Vida). Assim como para as cenas em movimento acelerado
e com a presença da música, evocativa em
sua desnaturalização do corpo humano das recentes experimentações de Lester
como Os Reis do Iê-Iê-Iê. Trata-se
de uma das últimas interpretações de Totó, morto no ano seguinte, que ainda
voltaria a trabalhar com Pasolini no episódio A Terra Vista da Lua, um dos segmentos do filme As Bruxas. Arco Film. 89 minutos.
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