Nenhuma hierarquia conceitual confere a cópula ou ao orgasmo, o ápice da importância. O pensamento bakhtiniano, nesse sentido, encontra-se de alguma forma, fora do que Stephen Heath denomina, a "determinação do sexo", a moderna hipostasia da sexualidade como raison d'étre imperiosa da existência humana. A copulação, para Bakhtin é inseparável da defecação e da urina e outras lembranças semi-cômicas dos deleites grotescos do corpo. A visão compreensiva de Bakhtin ilumina, ainda que somente pelo contraste, o que é opressivo a respeito da maior parte da pornografia - sua implacável univocidade, sua falta de humor, sua obsessiva teleologia sexualista manifestada, em termos cinematográficos, nos zoom-ins na foda, no pênis, na vagina, na repetição infinita do que Lucy Irigaray chama "a lei do mesmo". E é essa univocidade que gera a inevitável perda de aura e mistério da pornografia. Ainda que o sexo seja auto-télico e auto-justificado, quando focado exclusivamente parece perder sua qualidade e implodir. Para Bakhtin, a sexualidade existe somente em relação - em relação a existência geral do corpo, a outras pessoas e a vida social comum.
(Robert Stam, Subversive Pleasures, p. 177-8)

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