Filme do Dia: O Beijo no Asfalto (1980), Bruno Barreto
O Beijo no Asfalto (Brasil, 1980).
Direção: Bruno Barreto. Rot. Adaptado: Doc Comparato, baseado na peça homônima
de Nélson Rodrigues. Fotografia: Murilo Salles. Música: Guto Graça Melo.
Montagem: Raimundo Higino. Cenografia e Figurinos: Paulo Chada. Com: Tarcísio
Meira, Ney Latorraca, Lídia Brondi, Cristhiane Torloni, Daniel Filho, Oswaldo
Loureiro, Thelma Reston, Flávio Santiago.
Arandir (Latorraca), bom esposo, vive
um casamento tranqüilo com a esposa Selminha (Torloni) até o dia em que resolve
dar um beijo na boca de um homem agonizante no meio da rua, sendo observado
pelo próprio genro, Aprígio (Meira), que faz uso do episódio para tentar
afastar a filha do cunhado. Inicialmente Selminha resiste as insinuações do pai
sobre o marido, por acreditar que ele se encontra atraído por ela. Porém, com a
verdadeira campanha orquestrada pelo inescrupuloso jornalista Amado Pinheiro
(Filho), chegando ao cúmulo de forjar um envolvimento amoroso e que Arandir
teria praticado um homicídio, contando com o delegado Cunha (Loureiro) como
cúmplice, e toda a sociedade pressionando, Selminha acaba mudando de idéia.
Despedido do trabalho, fugido de casa e enfrentando a desconfiança e o riso de
todos, Arandir recebe a visita da irmã mais jovem de Selminha, Dália (Brondi),
que se encontra apaixonada por ele. Logo depois chega Aprígio, que acaba
revelando sua paixão sempre fora por ele e não pela filha, matando-o em
seguida.
Embora existam vários pontos de contato entre
o filme de Barreto com outras adaptações de Rodrigues para o cinema à
época, que se beneficiaram tanto das investidas pioneiramente escrachadas de
Jabor em Toda Nudez será Castigada (1972) e O Casamento (1974),
quanto de um certo apelo erótico tampouco incomum nas pornochanchadas, essa
produção tem suas peculiaridades. Longe da carga de erotismo evocado pelos
títulos dirigidos por Neville D´Almeida ou Haroldo Marinho Barbosa, talvez
possua como mais interessante um certo tom aparentemente realista que não
encobre a atmosfera de aberta fantasia persecutória de homossexualidade recalcada, somente concretizada na esfera do beijo mórbido, ganhando todo o
caso uma dimensão abertamente hiper-realista. Embora uma chave realista para
tanta histeria possa ser justificada pela cobertura da mídia, retratada de modo
mais caricato possível, na figura do personagem vivido por Daniel Filho, a
própria composição visual do filme, repleta de uma iluminação carregada e
talvez a única solução cinematográfica inspirada do filme – a seqüência final,
verdadeiro tableau que não esconde sua origem teatral – desmente tal
leitura. Segunda adaptação da obra de Rodrigues, após O Beijo (1964), de
Flávio Tambellini, conta com diálogos escritos pelo próprio dramaturgo. Prod.
Cin. L.C.Barreto/Embrafilme/Filmes do Triângulo. 80 minutos.
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