Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#128: Chuquiago
CHUQUIAGO (Bolívia, 1977). O primeiro filme boliviano verdadeiramente popular realizado na Bolívia, com 400 mil espectadores, superando o público de Tubarão, de Steven Spielberg, Chuqiago (o nome Ayara de Nossa Senhora de La Paz), de Antonio Eguino, marcou um movimento se afastando do cinema militante de esquerda de Jorge Sanjinés, embora retendo o realismo e a consciência social da obra inicial do grupo Ukamau.
Após estudar engenharia, fotografia e cinema em Nova York, Eguiano se uniu ao grupo Ukamau, sendo amigo de Sanjinés desde a infância. Como todos os seus colegas de cinema bolivianos, o "pão de cada dia" de Eguino foi realizar patrocinados por clientes comerciais ou governamentais. Seu papel mais importante foi ser o diretor de fotografia para seu amigo em Yawar Mallku (Sangue de Condor, 1969), o longa não concluído deles, e El Coraje del Pueblo (1971). Depois de Sanjinés partir para o exílio, Eguino e o roteirista Óscar Soria formaram um grupo separada, Empressa Ukamau, que se tornaram conhecidos por realizar um "cinema possível" sobre a ditadura do General Hugo Bánzer. O primeiro longa deles foi Pueblo Chico (1974), sobre um jovem que retorna à Bolívia, após estudar na Argentina e tendo que enfrentar o provincianismo de visões estreitas de sua pequena cidade natal. A cidade de La Paz e seus divergentes meios sociais e raciais torna-se o tópico de seu filme seguinte, Chuquiago.
La Paz é a capital mais alta do mundo, situado no cânion do Rio Choquey-apu, um enclave no planalto de Altiplano. A capital oficial (constitucional) da Bolívia é Sucre, e é a base do sistema judicial, mas La Paz, a capital "administrativa", possui mais departamentos governamentais que Sucre. Seu nome completo é La Paz de Ayacucho, após a vitória boliviana em Ayacucho, Peru, na guerra da independência. Os moradores mais ricos vivem nas regiões mais baixas, 2.900 metros, enquanto os pobres, muitos dos quais são imigrantes rurais e indígenas, são forçados a viver nas encostas cada vez mais altas, atingindo agora 4.100 metros. Filmado em 16 mm com orçamento de 80 mil dólares, surpreendentemente o mais caro para um filme boliviano, Chuquiago é um filme de episódios, contando histórias distintas de quatro residentes de La Paz. Isico, um rapaz indígena; Johnny, o filho de um indígena operário da construção civil que deseja emigrar (para os Estados Unidos); Carloncho, um funcionário público; Patricia, uma estudante rica que se apaixona por um revolucionário. As histórias são contadas nesta ordem, dos pobres aos ricos, e estão ligados pela sensação de descer de La Paz, ainda que no final, Isico, seja vista de baixo, a levar uma carga morro acima. O filme inicia com esta citação: "Uma lenda: Wira, o deus criador do vale, aos pés das montanhas de Illiami, dizendo "Chuquiago, tu serás eterna, protegida do vento e do granizo. O conquistador espanhol cravou um nome em tuas entranhas: La Paz...teu nome pertence à lenda." A primeira é um plano extremamente aberto das montanhas andinas, após o que Isico é visto em câmera baixa, contra um majestoso pano de fundo. Ele chega a La Paz de longe, sem compreender nada de espanhol, e seus tios, frutrados com sua "estupidez", arrumam para ele um trabalho com uma mulher no mercado. Johnny deseja escapar de suas raizes "indígenas", permitindo ao filme apresentar as interseções entre indígenas e brancos, culturas proletária e burguesa. Seu pai lhe fala: "Nesta casa falamos Ayara", mas ele tenta aprender inglês. Para levantar dinheiro para sua fuga, toma parte em um assalto; ele é preso, e após sua família retirá-lo da prisão, fica sabendo que a "agência de viagens" é uma fraude. A história de Carloncho é contada parcialmente em flashback enquanto uma comédia de "humor negro", de seu funeral. Morreu a caminho de casa, voltando para sua esposa depois de uma noite de bebedeira em um bordel. Na última história, Patricia, seguindo os desejos de sua mãe, casa-se com alguém de sua própria classe, sabendo no dia de seu casamento que seu namorado radical se exilou. Pela janela de seu carro de recém-casada, observamos Isico com seu carregamento.
O pessimismo de Chuquiago refletia o ânimo da nação pouco antes da queda da ditadura de Bánzer, mas é ainda surpreendente que uma perspectiva tão sombria pudesse resultar em um sucesso de bilheteria. Após denunciar tentativas de proibir a primeira exibição pública boliviana de El Coraje del Pueblo, em 1979, Luis Espinal, co-roteirista de Soria em Chuquiago, foi sequestrado, torturado e assassinado em 1980. Eguino dirigiu outro longa, Amargo Mar (1984), sobre a Guerra do Pacífico em 1879 com o Chile. Continou a realizar documentários patrocinados e comerciais, enquanto operava um estúdio fotográfico e assumiu vários papéis administrativos; em 2007, finalmente dirigiu seu quarto longa-metragem, Los Andes no Creen en Dios.
Texto: Rist, Peter H. Historical Dictionary of South American Film. Plymouth: Rowman & Littlefield, 2014, pp. 157-59.

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