Filme do Dia: Bestia (1917), Aleksander Hertz

 


Bestia (Polônia, 1917). Direção e Rot. Original Aleksander Hertz. Fotografia Witalis Korsak-Gologowski. Dir. de arte Józef Galewski & Tadeusz Sobocki. Cenografia Józef Galewski. Com Pola Negri, Witold Kuncewicz, Jan Pawlowski, Maria Duleba, Lya Mara, Aleksander Sobiszewski.

Após uma farra com amigos, Pola (Negri), terá que enfrentar a fúria de um pai bastante enervado com seus namoros e chegadas de madrugada, espancando-a ao notar sua presença no quarto. Ela foge da casa dos pais e vai ao encontro do namorado, Dymitr (Pawlowski). Este traz suas economias consigo e se dirige com Pola a um hotel, administrado por amigos. Lá, após bebedeira, quando Dymitr adormece, Pola surrupia o dinheiro que se encontrava com este e parte. Pola inicia uma carreira venturosa como dançarina, enquanto Dymitr, quebrado, torna-se garçom de um refinado estabelecimento, o Café de Paris. Com sua dança, ela torna imediatamente apaixonado Aleksy (Kuncewicz), homem de posses e insatisfeito com sua vida conjugal e familiar. Ele se encontra disposto a contar tudo a esposa, Sonia (Duleba), mas ao chegar em casa não tem coragem, e continua levando sua vida dupla, sob as indagações de Pola de quando irão se casar. Aleksy finalmente decide se separar da esposa e quando lhe noticia, esta fica extremamente abalada. Ela decide ir comemorar a novidade no Café de Paris. Ao lá chegar, dá-se de quem os serve é Dymitr. Enquanto isto Sonia e a filha arrumam as coisas para abandonar a residência. Dymitr não a reconhece. Ela decide devolver a quantia que lhe havia furtado, com uma nota de desculpas. No mundo da dança, o diretor da companhia pretende que Pola assine um contrato e quando esta afirma que não o fará pois casará com Aleksy, este lhe diz que ele é um homem casado. Sonia entra em processo depressivo. Quando Pola recebe um homem e lhe pede para investigar se Aleski é casado, este chega. Aleksi, na mesma noite, organiza um jantar para Pola. Esta envia uma carta para ele dizendo saber que ele possui mulher e filha, e que não irá ao jantar. Desiludido, Aleksi arrepende-se do caso com Pola e pensa na mulher, mal sabendo esta se encontrar em estado terminal. Dymtr planeja matar Pola. Aleksi volta a Sonia. Porém, chega tarde demais.

O filme não incorpora a decupagem fluente do cinema clássico, no recorte do que seria potencialmente interessante numa cena. A maior parte dos planos são bem abertos, sequer facilitando a nossa visualização de onde estaria Pola, a heroína que toma partido do nome da própria atriz, que já ganhava certamente destaque na sua Polônia natal, e se tornaria estrela do cinema alemão logo mais. É o caso da cena em que Pola e um grupo relativamente grande de amigos se diverte, completamente despreocupados com horários ou cobranças familiares – Pola possui somente 16 anos.  A corte dela com o namorado Dimitri é um dos momentos mais visualmente interessantes, trazendo certa espontaneidade nos gestos, correrias e arroubos juvenis. As cartelas dessa versão restaurada, mas não integral,  com boa qualidade de imagem, assim como os próprios créditos, são nitidamente não originais. No primeiro plano do filme, observamos uma inserção algo intrusiva, para os critérios clássicos, de Negri com um enorme cão, em um uso temporão que destaca habitualmente a estrela ou antecipa motivo importante do filme, de forma distinta do mais teatral acenar para a câmera ou ser filmado por ela e encarar a lente da mesma, da apresentação de alguns elencos. Embora Negri tenha ficado hostilizada por aparentemente fazer uso de técnicas interpretativas exageradas, em seu período hollywoodiano, aqui muito mais que ela, quem faz todo o receituário de poses, caras e gestos de dor é Duleba, quando sua personagem fica ciente do desejo de divórcio do marido. Tal como uma novela, o filme vai intercalando seus núcleos de forma bastante ritmada, buscando trazer o estado das coisas do triângulo ou quarteto amoroso. Imagina-se haver uma saída moralista, mas esta, na verdade, reverbera sobre as duas mulheres, embora fique muito pouco esclarecido, ao menos na versão sobrevivente, o que de fato ocorreu com Pola. Mas presume-se que se tem a constatação visual de sua morte, a partir da cartela a afirmar que as duas histórias de amor findam em tragédia. Infelizmente trata-se da única produção sobrevivente da carreira polaca de Pola. Talvez o que filme traga de mais tocante, de forma involuntária, é se perceber uma juventude repleta de hormônios e desejo de interagir, de modo nada distante, de representações posteriores ao longo do século| Sfinks. 44 minutos.


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