Filme do Dia: The Great White Silence (1924), Herbert G. Ponting
The Great White
Silence (Reino Unido, 1924). Direção: Herbert G. Ponting.
Documentário que acompanha um navio
que parte para a Antártida nos idos da década de 10 e, de cuja tripulação,
fazem parte o próprio realizador e o célebre explorador Robert Scott, além de
cavalos e cachorros, que servirão de apoio nas gélidas terras próximas do ponto
mais extremo ao sul do mundo. À comparação inevitável com outro documentário
célebre da época, Nanook, O Esquimó
(1922), de Flaherty, acaba evidenciando propostas bastantes distintas. Enquanto
Flaherty se esmera na construção de seu personagem, não abdicando de fazer uso
de encenações e de alterar a ordem do que foi filmado, tendo em vista, o
potencial narrativo (e comercial) de seu filme, Ponting não havia filmado na
época com intenção de realizar um documentário de longa-metragem, concepção
sequer disponível então. O que ocorre, de maneira geral, é um encadeamento mais
ou menos livre, de “vistas” que foram tiradas ao longo da viagem. Quando se
soma a isso, a ausência de personagens definidos a se seguir e a banalização
das imagens dos rincões mais distantes do planeta ao longo das décadas, pode-se
afirmar que o filme se torna menos interessante que o de Flaherty. Porém, como
se pode perceber nessa versão restaurada em 2011, com a presença de uma banda
sonora que não se furta em aumentar ainda mais o teor nacionalista do projeto
inicial; certa dimensão aurática das imagens, no entanto, resiste, como se
houvesse sido preservada em alguma das geleiras apresentadas ao longo do filme,
tal é o caso do gigantesco iceberg contra o qual as ondas se jogam em efeito
espetacular ou ainda da imagem do navio observada ao longe por entre uma greta
de uma geleira. Em ao menos um ponto, o documentário de Ponting parece mais
ousado que a produção de Flaherty: é marcado, do início ao final, por uma certa
auto-reflexividade, motivada igualmente pela distância entre o momento no qual
as imagens foram captadas e a de sua organização; nada mais indicativo, nesse
sentido, que quando se observa o casco do navio avançar intrépido nas águas
geladas e se indaga como teriam sido feitas tais imagens e logo stills, recurso
muito utilizado ao longo do filme (devendo ser levado em conta que Ponting era
fotógrafo por profissão), são apresentados de tábuas postas em paralelo ao
navio, servindo para que o cinegrafista conseguisse tais imagens. Tampouco se
pode deixar de mencionar os efeitos que são utilizados para representar o
avanço de Scott em direção ao Pólo Sul e o trágico retorno, com a morte de
todos os seis exploradores, a poucas milhas de sua base de apoio. Observa-se,
através de trucagens – lembrando que o próprio Ponting não foi selecionado para
ir adiante com seu material de filmagem – o que seria os trenós da expedição em
meio a vastidão gelada, assim como de traçados que cruzam mapas, fotos tiradas
durante o momento e, principalmente, os relatos dos diários de Scott,
encontrados em meio aos restos mortais dos que haviam sobrevivido até então,
articulados em cartelas. Detendo-se, boa parte, nos hábitos dos pinguins, não
se pode exatamente cobrar falta de foco em imagens, como comentado, que não
foram organizadas com o intuito outro, que não o de registrar momentos diversos
da expedição. Destaque para os “flagrantes” do cotidiano, como membros da
tripulação dançando ou lutando boxe de forma bastante consciente para a câmera.
E para o incontestável orgulho colonizador que parece se encontrar tão
fortemente enraizado no ethos de sua época e lugar (Reino Unido) que soa
como em continuidade com as explorações de Stanley e Livingstone na África e,
motivo dos pensamentos finais de Scott segundo o documentário. Foi um fracasso
comercial, assim como o documentário posterior do realizador, 900South (1933), também a
partir do mesmo tema. Gaumont British
Distributors para New Era. 108 minutos.
Comentários
Postar um comentário