Filme do Dia: Salaam Bombay (1988), Mira Nair
Salaam Bombay (Salaam Bombay!, Índia/Reino
Unido/França, 1988). Direção: Mira Nair. Rot. Original: Mira Nair & Sooni
Taaraporevala. Fotografia: Sandi Sissel. Música: Subramaniam. Montagem: Barry
Alexander Brown. Dir. de arte: Mitch Epstein. Com: Shafiq Syed, Hanja Vithal,
Chanda Sharma, Aneeta Kanwar, Nana Patekar, Raju Barnard.
Krishna (Syed) é levado ao circo por
sua mãe, porque tem uma dívida grande para com o irmão, e só deve retornar após
conseguir as 500 rúpias devidas. Porém acaba sendo abandonado à própria sorte
pelo circo e saindo de sua província para tentar a sorte na cidade grande de
Bombaim. Lá muda seu nome para Chaipu e trabalha como entregador de chás,
conhecendo um novo estilo de vida. Logo faz amizade com Chillum (Yaday), que o
inicia no mundo da droga, e passa a cortejar a jovem conhecida como Doce
Dezesseis, que é uma virgem prometida de bordel, para o ciúme da mais jovem
Manju (Vithal). Manju é filha de uma prostituta, Rekha (Kanwar) com um
traficante de drogas e cafetão, Baba (Patekar). Chilum, que trabalha para Baba,
cai em desgraça, quando esse sabe, através de um comentário de Chaipu para
Manju, que Chilum andara vendendo droga sem entregar parte do dinheiro a Baba.
Desempregado, Chillum volta-se completamente para o crack, enquanto Manju e
Chaipu são levados a uma instituição do Estado que cuida de crianças sem apoio
familiar. A detenção até a maioridade de Manju leva a completa desestruturação
das relações entre seus pais. Chaipu
consegue fugir da instituição corretiva, mas a vida fora também não parece ter
muitos atrativos: Doce Dezesseis parte com um homem que pagara o suficiente por
sua virgindade; Chillum não resiste ao vício e tem uma overdose e, o que é
pior, com o dinheiro que Chaipu juntara de seu trabalho; Rekha acaba decidindo
abandonar o marido. Esse opõe resistência e é assassinado por Chaipu. No meio
da confusão de uma comemoração festiva, Chaipu se perde de Rekha e chora sua
desgraça em um terreno baldio.
Embora provavelmente
possivelmente inspirado em alguns
elementos da mitologia indiana – a mudança de nomes do protagonista, sendo um
deles Krishna, é um bom indicativo para tal – a maior parte dos elementos
dramatúrgicos que trabalha Nair não é estranha à cultura ocidental, antes pelo
contrário. O tema da cidade como fruto de degradação dos valores da família e
da integridade moral já possui uma vasta tradição na literatura, antes de fazer
parte do cinema. Da mesma forma a descrição do mundo marginal que passa a viver
Chaipu poderia ser ambientada (e o foi, pelo cinema) em locais tão diversos
quanto Nova York ou Rio de Janeiro. Aliás, as semelhanças com Pixote (1980), de Babenco, são
visíveis, no realismo cru e descritivo, de grande voltagem moral e pouca
reflexividade, presente tanto no conteúdo quanto na forma do filme, que
aproxima-se da linguagem documental, com passagens por instituições corretivas
(aqui já quase no final, no filme de Babenco no início), na descrição da
solidariedade entre os amigos do meio marginal e, particularmente, na cena de
fuga de Chaipu pelas ruas da cidade, que evoca de imediato a cena de Pixote nu
fugindo da Polícia. Mesmo que longe de plenamente satisfatório – os arquétipos
a que se reduzem quase todos os personagens, solapam qualquer tentativa de
maior originalidade – o filme é bem superior a uma produção sofrível posterior
de Nair, falada em língua inglesa, Kama
Sutra (1996). Camera D’Or no Festival de Cannes.Cadrage/La Sept
Cinéma/Mirabai Films/NDFC. 113 minutos.

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