Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#113: Días de Santiago




 Días de Santiago (Peru, 2004). Um impressionante filme de estréia de Josué Méndez, Dias de Santiago foi talvez o melhor longa peruano em mais de dez anos. O filme segue Santiago (Pietro Sibile), um marinheiro dispensado recentemente de vinte e três anos, que havia lutado contra traficantes de drogas na floresta peruana, assim como em escaramuças na fronteira, com as forças equatorianas, e tendo problemas para se ajustar à vida civil no centro de Lima. Em casa está sempre discutindo com os membros de sua família e lutando com seu desagradável irmão traficante de drogas, e observamos a feiúra de seu gordo pai, a tentar seduzir uma jovem que trabalha numa loja da família. Santiago tenta salvar sua cunhada, alocando-a em um apartamento, mas ela busca seduzi-lo. Ele se comporta de alguma maneira pudicamente, resistindo aos avanços dela, depois de ter testemunhado cenas horrorosas de estupro e assassinatos injustificados, enquanto soldado, e tenta ser um bom veterano. Mas sucumbe a sua própria raiva e as vezes bate em sua esposa, levando ao fim de seu casamento. Também o observamos tentando encontrar emprego - dirige um táxi e uma parte do dia treina computação - e encontra-se com seus antigos colegas de serviço militar (um deles em uma cadeira de rodas), todos se esforçando, com suas pensões inadequadas. 

Dentre as influências de Méndez, uma que certamente pode ser contabilizada é Taxi Driver (Estados Unidos, 1976), de Martin Scorsese, particularmente com o papel semelhante ao Travis Bickle de Robert De Niro, ainda que o papel de Sibile seja nuançado e, por vezes, bastante simpático. Também, o aparente cortiço que é sua casa e a repesentação sinistra da vida nas ruas são muito mais miseravelmente realistas que o universo de Taxi Driver. Curiosamente, a película muda de preto e branco para cores sem nenhuma razão aparente, ainda que numa cena monocromática nas ruas, Santiago vista uma camiseta branca e sua esposa ostente um olho roxo; o estilo se casando idealmente ao conteúdo, talvez. A mudança de cor da paleta proporciona uma tensão que é também expressa através da câmera sempre seguindo Santiago, aparentemente colada a ele, sobre seu ombro. Esta escolha estilística dá ao filme um deslocamento real. Días de Santiago estreou no Festival de Roterdã. Sibile ganhou o prêmio de Melhor Ator no Festival de Bratislava, assim como no Festival Intenacional de Cinema Independente de Buenos Aires (BAFICI) e no Festival de Cinema Latino de Lima, enquanto Méndez venceu o Grande Prêmio e o FIPRESCI no Frestival de Fribourg e outros prêmios em festivais. Em 2004 e 2005 o filme foi exibido em muitos festivais nos Estados Unidos, Canadá, França, Espanha, Polônia e tão longe quanto Hong Kong. Foi lançado nos Estados Unidos em 2005 e foi a submissão peruana ao Oscar de Língua Estrangeira em 2006, mas não foi indicado. Méndez desde então dirigiu outro longa, Dioses (2008), uma co-produção entre Peru, Argentina, França e Polônia, vencendo prêmios no Festival Internacional del Nuevo Cine Latino (Havana, Cuba) e no Festival de Biarritz de Cinema Latino Americano. Posteriormente produziu Paraiso (2009), longa peruano dirigido por Héctor Galvez e co-dirigiu um longa documental, Qué Culpa Tiene el Tomate, também uma co-produção internacional. 

Texto: Rist, Peter H. Historical Dictionary of South American Film. Plymouth: Rowman & Littlefield, 2014, pp. 207-8. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: El Despojo (1960), Antonio Reynoso