Filme do Dia: Quo Vadis, Aida? (2020), Jasmila Sbanic
Quo Vadis, Aida?
(Bósnia e Herzogovina/Áustria/Romênia/Holanda/Alemanha/França/Polônia/Noruega,
2020). Direção Jasmila Sbanic. Rot. Adaptado Jasmila Sbanic, inspirado pelo
livro Under the UN Flag. Fotografia Christine A. Maier. Música Antoni
Lazarkierwicz. Montagem Jaroslaw Kaminski. Dir. de arte Hannes Salat, Zeljka
Buric & Sabine Engelberg. Figurinos Malorzata Karpiuk & Ellen Lens.
Maquiagem Michaela Payer. Com Jasna Djuricic, Izudin Bajrovic, Boris Ler, Dino
Bajrovic, Johan Haldenbergh, Raymond Thiry, Boris Isakovic, Emir
Hadzihafizbegovic.
Bósnia,
julho de 1995. A tradutora para a ONU, Aida (Djuricic) se encontra numa
situação complicada. Ao mesmo tempo que traduz os informes do comandante,
Franken (Thiry) de um campo onde cerca de 4 mil bósnios se refugiaram, fugindo
da sanha genocida dos sérvios, sendo que apenas um dos filhos conseguiu
adentrar no campo. Há uma multidão cerca de dez vezes maior nos portões do
campo da ONU. Após muitas tentativas,
com diversos integrantes do campo, todos temerosos de que uma revolta coletiva
se instaure, caso alguém seja beneficiado entre os que se encontram fora da
fortificação, Aida consegue que o marido (Bajrovic) e o outro filho adentrem à
noite. O General sérvio Rakto Mladic (Isakovic), enquanto dialoga com enviados
da ONU, negocia a entrada na fortificação de um grupo de milicianos em busca de
muçulmanos ou armas, infringindo as orientações de praxe. Segue-se então uma
ação com a presença do próprio Rakto de separar homens de mulheres e crianças,
inclusive os que se encontravam refugiados na fortificação. Aida se desespera
com a situação do marido e filhos e tenta, de todas as maneiras, inclui-los na
lista de servidores da ONU, sem sucesso. Quando é anunciada a necessidade de
evacuação da base da ONU, tenta escondê-los mas o plano não funciona. Apenas o
marido conseguiu uma falsa identificação da ONU, mas ele prefere ir com os
filhos, e todos são executados, junto com dezenas de outros homens. Tempos
depois, Aida reconhece, por alguns pertences, os restos mortais de um dos
filhos. Muitos anos depois, Aida retorna à cidade e a sua profissão de
professora.
Voltando
aos eventos do Massacre de Srebrenica, trabalhando-se com imagens sem firulas
estéticas, chapadas como as de um vídeo jornalístico, o filme exala tensão do
início ao final, construindo um drama particular dentro do mais amplo. Dito
isto, nesta relação entre drama privado e a situação mais ampla, ao optar pelo
primeiro como forma de criar um processo de identificação com o espectador, é
parcialmente prejudicado por não termos uma contextualização das relações da
família ameaçada, ficando tudo concentrado na angustiada Aida, dividida entre
sua função profissional e seu emocional pessoal. Até chegar o ponto da escolha
entre a vida e a morte, ao estilo de A Escolha de Sofia, ao final. O
carrasco sérvio, posteriormente condenado à prisão perpétua por crimes de
guerra, é vivido com toda dissimulação por Isakovic. Ele ordena seus homens a
distribuir pães, em uma aglomeração faminta, assim como o registro das imagens
das mulheres acomodadas nos ônibus que a retirariam da cena. Embora sejamos
poupados do massacre no ginásio, no qual os familiares de Aida morrerão,
fica-se com a impressão incômoda de talvez nenhum drama filmado poder dar conta
de algo tão absurdo quanto o retratado, em termos de representação do mal e da
dor. Curiosamente a atriz que vivencia Aida e o ator a atuar como general que
perpetrou o massacre são casados.|Deblokada/Coop 99 Filmproduktion/Digital
Cube/N 279 Ent./Razor Film Produktion GmbH/Extreme Emotions/Indie
Prod/Tordenfilm AS. 101 minutos.
Comentários
Postar um comentário