Filme do Dia: Why We Fight 1 - Prelúdio de uma Guerra (1942), Frank Capra & Anatole Litvak

 


Why We Fight 1 – Prelúdio de uma Guerra (Prelude to War, EUA, 1942). Direção: Frank Capra & Anatole Litvak. Rot. Original: Julius J. Epstein, Phillip G. Epstein, Robert Heller, Eric Knight  & Anthony Veiller. Fotografia: Robert Flaherty. Música: Hugo Friedhofer, Leigh Harline, Arthur Lange, Cyril J. Mockridge, Alfred Newman & David Raksin. Montagem: William Hornbeck.

Nesse que é o primeiro dos sete documentários da série já fica bastante demarcado a forma e o conteúdo  estético e ideológico a ser apresentado. Não se busca meios tons. Embora a série originalmente tenha sido idealizada para consumo interno das forças militares, acabou tendo lançamento comercial, tornando-se um dos marcos do que se convencionou como documentário clássico, com sua narração mais que assertiva de Walter Huston que quase sempre toma a frente em relação às imagens, que ganham (ou pretendem ganhar, ao menos) uma significação fechada a partir do comentário. A estratégia é a da contraposição, tornada didática através de dois globos que surgem recorrentemente e onde se diferencia o “mundo livre” do mal totalitário a ser expurgado, representado aqui pelas figuras de Hiroíto, Mussollini e Hitler. Aparentemente composto exclusivamente de imagens de arquivo e com uma montagem de ritmo frenético que  em termos de brevidade dos planos nada fica a dever aos filmes soviéticos de vanguarda dos anos 1920. Observa-se, sob um prisma moral e apaixonado a sanha imperialista de conquista territorial do Japão, Itália e Alemanha a partir de imagens de um mapa do mundo, assim como a utilização de crianças para doutrinação e até mesmo combate, assim como vítimas das agressões bélicas, representado sobretudo pela imagem de uma criança semi-despida e morta, observada pela desesperada familiar em prantos – em contraposição a imagem de americanos que fazem doações às vítimas dos terremotos no Japão. Para o documentário a Segunda Guerra já se encontraria em germe a partir de 1931, quando da invasão japonesa a Manchúria. E, ainda que se responda que o motivo para se lutar se encontre nas agressões bélicas sofridas tanto na Europa quanto em rincões distantes, como a própria Manchúria, cujas “cabanas queimadas” dificilmente mobilizariam uma reação mais efetiva da opinião pública norte-americana, como comenta o enfático narrador, não se consegue exatamente se fugir do fato dos EUA terem entrado na guerra somente após terem sido efetivamente atacados pelo Japão em Pearl Harbour – algo, evidentemente, não tocado de forma explícita. Todos os expedientes que diferenciem os dois mundos se tentam fazer visíveis, da ausência de liberdade religiosa na Alemanha, onde o crucifixo das igrejas cristãs é substituído pela insígnia nazi, passando pela queima de livros, inclusive de obras produzidas na própria Alemanha (sem que se toque, curiosamente, na questão anti-semita) e também a impossibilidade de escolha de quem irá liderar o país. Ressalta-se o tom grotesco, e mesmo cômico, das atitudes das lideranças, como é o caso da pose um tanto bufona de arrogância e prepotência de Mussollini cruzando os braços e fazendo um muxoxo após seu discurso. Talvez mais abstrato em sua retórica que os segmentos seguintes, que focam mais em conflitos e situações específicas, chegando inclusive em seus últimos episódios a se aproximarem mais de uma poética do cotidiano, mais explorada por alguns exemplares britânicos (Humphrey Jennings sobretudo) e americanos menos conhecidos (como é o caso do antigo colaborador de Capra, o roteirista Robert Riskin e sua série contemporânea e menos lembrada Projections of America). Parte do esforço de guerra em qual se mobilizou quase que completamente a indústria cinematográfica norte-americana, o que justifica a quantidade de colaboradores de renome em seus créditos e o fato de ter sido co-produzido pela Academia de Artes e Ciências de Hollywood. U.S. War Department/AMPAS/U.S. Army Special Division. 52 minutos.

 

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