Filme do Dia: Ikebana (1957), Hiroshi Teshigahara

 


Ikebana (Japão, 1957). Direção: Hiroshi Teshigahara. Música: Katsutoshi Nagasawa. Montagem: Miyuri Miyamori. Dir. de arte: Myôgata Okada.

Terceiro curta documental dirigido por Teshigahara. Embora o documentário possa, à primeira vista, parecer impregnado de um tom educador algo aborrecido que remete a um dos estigmas mais conhecidos do gênero, consegue construir uma coerente introdução à arte do  secular ikebana, que a partir dos arranjos florais se espraiou para inspirações mais contemporâneas, como a arquitetura e arte modernas. Esse arranjo orgânico que muitas obras de ikebana apresentadas trazem é espelhada pelo próprio filme, que primordialmente se apresenta como mais próximo de propostas mais singelas, através de sua utilização das cores (ausentes dos primeiros longas ficcionais do realizador na década seguinte como A Mulher da Areia), de sua narração em tom sempre similar e feminino, talvez por conta de se tratar de retratar preocupações eminentemente estéticas, portanto menos marcadas pelo “objetivismo duro” que a voz over masculina habitualmente incorpora no cenário do documentário até então e, fundamentalmente, pela música em forte diálogo com a narração. Teshigahara lança o foco sobre um dos mestres dessa arte que vem a ser seu próprio pai, Sofu (cuja arte voltará a ser tema de outro curta do realizador em 1963), deixando os detalhes de cunho sociológico (como o fato de aparentemente dois milhões de japoneses o praticarem) para trás. Porém seu tom igualmente cool, de montagem seca e ausência de transbordamento expressivo também sugeriria uma aproximação com a modernidade presente em alguns ikebanas, ainda que alguns deles namorem com um estilo de transbordamento expressionista pouco afinado com o tom do próprio curta. Finda com os ikebanas apresentados em uma exposição e com uma pretensa aproximação maior deles com a vida quando são apresentados à margem do mar. Aqui, numa das imagens finais, o filme foge desnecessariamente de seu estilo, ao não apenas se contentar em apresentar um crânio e a morte como inspiradora de algumas obras, produzir uma fusão a partir de uma das “órbitas” de uma obra, em que surgem imagens da explosão nuclear e suas vítimas de forma demasiado redundante. A narração já comentara sobre a função de tais arranjos em fazer com que “se siga adiante”, o que já era uma referência mais que evidente aos horrores da guerra ainda bastante recentes. Seinen Prod. 32 minutos.

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