Filme do Dia: Anna Magnani, Interpretando a Verdade (2008), Sandro Lai

 


Anna Magnani, Interpretando a Verdade (Anna Magnani, Recitar ela Verità, Itália, 2008). Direção: Sandro Lai.

Telefilme documental que não possui qualquer (ou quase qualquer) esforço além da compilação de arquivos de entrevistas e trechos de filmes que dizem respeito a retratada, uma das mais célebres atrizes italianas de todos os tempos. O filme acompanha de sua estreia em Teresa Venerdi (1941) até suas últimas participações em filmes como Roma (1972), de Fellini, no qual interpreta a si própria, sendo seguida pela equipe do cineasta e dizendo não confiar nele e mandando-o ir para casa. Poucas atrizes trabalharam com um espectro tão amplo de grandes realizadores na Itália. E quase todos eles também são apresentados falando da diva – à exceção notória de Pasolini, conhecido por ter se arrependido profundamente de tê-la chamado para seu Mamma Roma (1962). Existe um depoimento relativamente breve de Rossellini e outros bem mais extensos de Visconti e Zefirelli, assim como do próprio Fellini, comentando a dificuldade de conseguir convence-la a participar de uma ponta de seu Roma. Dentre algumas imagens raras se encontram, no auge de sua fama nos Estados Unidos – tendo sido a primeira atriz não americana a ganhar um Oscar – está o do seu encontro com Marilyn Monroe. Existem vastos trechos de entrevistas com a própria Magnani falando de si (ou se escusando a falar de si própria), de sua carreira, de seu retorno ao teatro. Algumas poucas informações são fornecidas pela narração over do documentário, como o fato dela ter ficado anos afastada de Visconti por ele não tê-la premiado no Festival de Veneza, preterindo-a à Maria Schell. Zefirelli talvez seja quem mais se sobreponha aos clichês e elogios superficiais diversas vezes ouvidos ao longo do documentário, ao apontar para a paradoxal “profissionalização da verdade” que se encontraria encarnada em sua figura. Embora o documentário não deixe de se referir ao episódio da “guerra dos vulcões”, quando Magnani realizou um filme na ilha vizinha ao que seu ex-parceiro Rossellini filmava com sua nova companheira, Ingrid Bergman, em Stromboli (1949),  não se detém em muito mais que isso no que diz respeito a sua vida privada, deixando de lado a infinidade de relacionamentos que teve com outras personalidades do mundo artístico italiano como Massimo Serato. Ao abdicar tanto do sensacionalismo gratuito quanto de uma postura mais reflexiva na compreensão dessa forte personalidade que inevitavelmente contaminava todos as personagens que vivia, surge como derivada de uma proposta algo burocrática-institucional pouco criativa, ainda que ocasionalmente estimulante para os cinéfilos particularmente interessados no cinema italiano, mesmo quando comparada a outras realizações semelhantes da mesma televisão pública italiana, como é o caso de Que Estranho Chamar-se Federico (2013), de Ettore Scola. RaiTrade. 58 minutos.

 

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