Filme do Dia: Lá Vamos Nós (2020), Nir Bergman

 


Lá Vamos Nós (Hine Anachnu, Israel/Itália, 2020). Direção Nir Bergman. Rot. Original Dana Idisis. Fotografia Shai Goldman. Dir. de arte Nitzan Zifrut. Figurinos Liron Cohen. Maquiagem Karin Geva. Com Shai Avivi, Noam Imber, Smadi Wolfman, Efrat Ben-Zur, Amir Feldman, Sharon Zelikovsky, Natalia Faust, Uri Klauzner.

Aharon (Avivi) desenvolveu uma relação extremamente próxima com seu filho Uri (Imber), portador de um alto grau de autismo. A mãe do garoto, Tamara (Wolfman), no entanto, possui o plano de interna-lo em uma clínica, para que sua sociabilidade se expanda e a dependência do pai arrefeça. Após muita discussão, no dia que Aharon se desloca com Uri para o local, este tem uma crise intensa e Aharon decide viajar com o filho. Os dois se hospedam em um hotel e, mesmo tendo sua conta bloqueada por Tamara, Aharon busca uma amiga Effi (Ben-Zur), vivenciando um intenso luto no momento e a dupla dorme por lá. Aharon se desloca para o local onde se encontra o irmão Amir (Feldman) e sua companheira, Sharona (Zelikovsky), mas o convívio finda em discussão e a partida de Aharon sem o empréstimo pedido ao irmão. Dormindo na praia, Aharon se envolve em uma briga com um vendedor ambulante, que teve um picolé aceito por Uri, embora o pai não possua um centavo sequer. A polícia é acionada, Uri levado a instituição recomendada por Tamara. Duas semanas após, Aharon é chamado, pois Uri quebrou uma vidraça do seu quarto, querendo a presença do pai. Tamara deixa Aharon decidir o futuro do filho. Uma nova visita dele a instituição, surpreendentemente encontra Uri mais entrosado com a rotina.

Consegue discernir, evitando o sentimentalismo raso e as armadilha inerentes ao mesmo, uma situação a ressaltar o esforço hercúleo de um pai cuidar de seu filho, e ser o único a ter a paciência e o afeto que aparentemente o supre, com o qual acompanhamos angustiados sua jornada desesperada com uma compreensão mais complexa de uma relação construída, da qual o pai também se torna afetivamente dependente. E se tal compreensão fica mais nuançada ao final, afastando uma leitura meramente maniqueísta da postura materna, uma outra, a da relação do drama com as características clínicas específicas de um caso semelhante ao de Uri, provavelmente também foi posta na balança. O resultado final é tocante, com excelentes interpretações do elenco, com destaque para o trio principal, e para um trabalho de caracterização de Imber criterioso e longe do caricato. Nessa releitura e humanização de personagens semelhantes é posto na conta o não apagamento da sexualidade – há um momento em que Uri é buscado pelo pai na piscina, ao lado de um grupo de jovens, incluindo mulheres e está com uma ereção intensa, noutro invade o banho de Sharona no barco – mas não a levando ao campo da importunação sexual. Pode ser que fique a dever um pouco nos exemplos artísticos que convocam a atenção do rapaz, o filme O Garoto, de Chaplin e a música Gloria, grande sucesso do cancioneiro italiano-latino, menos pelas escolhas em si que pelo uso feito delas, mas nada inverossímil ou comprometedor, quiçá no máximo rotineiro, em termos dramáticos, como fomentadores de empatia. |Spiro Films/Rosamont. 94 minutos.

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