Filme do Dia: Top Gun: Ases Indomáveis (1986), Tony Scott

 


Top Gun: Ases Indomáveis (Top Gun, EUA, 1986). Direção Tony Scott. Rot. Adaptado: Jim Cash & Jack Epps Jr., sugerido a partir do artigo “Top Guns”, na revista California. Fotografia Jeffrey L. Kimball. Música Harold Feltermeyer. Montagem Chris Lebenzon & Billy Weber. Dir. de arte John DeCuir Jr. Cenografia Robert R. Benton. Guarda Roupa Bobbie Read & James W. Tyson. Maquiagem e Cabelos Rick Sharp & K.G. Ramsey. Com  Tom Cruise, Kelly McGillis, Val Kilmer, Anthony Edwards, Tom Skeritt, Michael Ironside, John Stockwell, Barry Tubb, Rick Rossovich, Tim Robbins, Meg Ryan.

O Tenente Maverick (Cruise) faz parte da elite dos pilotos da força aérea americana. Há rivalidade constante com o considerado melhor piloto, Ice (Kilmer), e uma paixão emerge pela instrutora, Charlie (McGillis). Maverick possui o trauma de ter perdido o pai em uma ação de combate, piloto respeitado como ele. Outro trauma irá se somar a este, quando Maverick perderá seu parceiro de vôo, Goose (Edwards), deixando-o propenso a abandonar a carreira.

Durante os seus primeiros vinte minutos já se encontram motivos mais que suficientes para elogiá-lo ou fustiga-lo, muitas vezes os mesmos motivos. Seu visual parece descoladamente distante de boa parte das produções de sua época e mais próxima das do século seguinte. Há um flerte mais que lascivo com a estética do videoclipe, que se tornara influente via MTV. Já se antecipam motivos como o código de camaradagem entre os bravos de plantão, não muito distante do tantas vezes observado nos filmes de guerra clássicos, só que aqui nos ares. Suas cenas de voos com as piruetas de seus jatos supersônicos, e mesmo os planos aproximados a apresentarem os atores são tremendamente realistas, provavelmente em relação a tudo que se produzira em Hollywood antes – e muitas vezes também depois, não por acaso o filme se tornando um extraordinário, e duradouro, sucesso de bilheteria, a gerar uma outra produção décadas após, Top Gun: Maverick. As imagens bélicas nada distantes do universo dos videogames são uma antecipação do que viria a ocorrer na Guerra do Golfo – morte, sangue e esfacelamento de corpos cedem espaço a um espetáculo mais sanitizado, impessoal, distante dos fluidos corporais – como não lembrar da evocação de um veterano de guerra a tirar sarro de um novato por ter feito nas calças a eclosão da primeira carga forte de bombardeios em Sem Novidades no Front? A aproximação com os joguinhos da época é fortalecida, porque nos exercícios aéreos desta elite de ases, o objetivo, tal como no universo eletrônico, é enquadrar o avião em sua mira, e não derrubá-lo. E é completamente dentro deste espírito que observamos um cartaz a afirmar a força aérea não ser apenas um emprego, é também uma aventura. Foi o filme que definitivamente pois Cruise no mapa do estrelato, e umas poucas produções apenas após aparecer desengonçado e feio em um papel menor de Vidas Sem Rumo. As coisas apenas pioram depois. E o filme parece querer se afirmar de vez como uma fantasia machista em torno do ego do Maverick, de Cruise. Em poucos dias (minutos, em termos de metragem) consegue ter um outro macho empoderado como rival, ir contra as indicações de seus superiores em voos demasiado arriscados e exibicionistas, desdizer as indicações – somente teóricas, é claro – da professora Charlie, de McGillis. E, de quebra, é lógico, ainda arrancar um encontro com a mesma, embora ela tivesse acabado de afirmar que não se encontrava com alunos. E apenas ceder, quando esta contrariando a vaidade do moço, que passa a ignorá-la, fazer um comentário negativo sobre sua ousadia no ar, para somente quando se encontra com ele, adicionar a existência de “um toque de gênio.  Quando se aproxima uma hora para seu final, uma de suas maiores marcas registradas, ainda sob a forma instrumental, Take My Breath Away, de um dos compositores/arranjadores mais influentes da época, Giorgio Moroder, toca.. Não falta a esta fantasia a imagem de um ídolo-pai, imolado em alguma circunstância desconhecida, e na mesma função do filho. Há a necessidade de honrar o sobrenome a carregar, lógico. Já está no pacote. E também, como todo filme de aviadores, não custa se ter a morte de alguém do pilotão, de preferência um amigo querido do herói (Asas ensinou o caminho, muito tempo atrás). E, agora uma vez mais todos os olhos parecem estar voltados para ele, inclusive do ex-adversário Ice. Que Maverick se chame Pete Mitchell, parece um detalhe a ser devidamente esquecido, da forma como se auto apresenta – de quem a personalidade como piloto se apossou da civil – e que os créditos replicam, assim como o título da produção subsequente. Resolvido o problema da reputação novamente garantida, numa batalha de verdade, e até um abraço de afetuosidade restrita em Ice trocado, resta ao herói resolver a sorte do amor, para além das carícias na corrente de Goose. E esta será bem mais fácil, de bandeja, surgindo com a música, como que num sopro de pensamento. O que, na verdade, nunca deixou de ser.|Paramount Pictures/Don Simpson-Jerry Bruckheimer Films para Paramount Pictures. 109 minutos.

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