Filme do Dia: Direito de Amar (2009), Tom Ford
Direito
de Amar (A Single Man, EUA, 2009).
Direção: Tom Ford. Rot.Adaptado: Tom Ford & David Scearce, a partir do
romance de Christopher Isherwood. Fotografia: Eduard Grau. Música: Abel
Korzeniowski. Montagem: Joan Sobel. Dir. de arte: Dan Bishop & Ian
Phillips. Cenografia: Amy Wells. Figurinos: Arianne Phillips. Com: Colin Firth,
Julianne Moore, Nicholas Hoult, Matthew Goode, Jon Kortajarena, Paulette
Lamori, Ryan Simpkins, Teddy Sears.
Idos da década de 60. George (Firth),
professor de inglês, um ano após a morte de seu companheiro, Jim (Goode), em um
acidente de carro, ainda não consegue lidar com a sua ausência. Próximo a ele
vive uma amiga, Charley (Moore), solitária desde a separação do marido, que o
convida para um jantar que quase termina com uma sedução. Assoberbado pelo
fantasma das lembranças, sua atuação em sala de aula também fica notoriamente
diferente do habitual, chamando a atenção da classe e sobretudo de um aluno
sensível, Kenny (Hoult), que passa a segui-lo desde a aula e o aborda no bar
onde George sempre vai, próximo de sua casa, para onde ambos vão após um banho
de mar.
Longa de estreia do estilista e cineasta
bissexto Ford. O filme consegue lidar relativamente bem com a construção do
luto de sua personagem, ainda que a compressão espaço-temporal (toda a
narrativa se passa em um único dia) lhe provoque ranhuras sérias, como é o caso
do excesso de situações que remetem a recordações ou fantasias de George,
vivido de forma digna por Firth, para conseguir dar conta dramaticamente do
tempo. Não se necessita aqui de toda uma ambiência social (como é o caso da releitura
de Sirk empreendida por Todd Haynes em Longe do Paraíso, com a mesma Moore) para se ter ideia de que são tempos
conservadores, até mesmo porque o filme parece ser uma produção relativamente
modesta e, mais importante, tudo nos é praticamente filtrado pela perspectiva
de George. Evidentemente, algumas saídas visuais conseguidas por Ford soam
constrangedoramente como tentando traduzir alguma passagem literária da obra de
Isherwood, como o voo de uma coruja que aparentemente simboliza um início de superação
do luto, com a redescoberta do desejo sexual, algo que se demonstrará equívoco,
no entanto. Outras soluções, como a do encontro eventual de George com um rapaz
espanhol, com boa vontade poderia ser pensada como mais um elemento a construir
o perfil psicológico do personagem. Um certo pessimismo e temor do pior se
encontra associado ao risco do conflito nuclear gerado pelo episódio da Baía
dos Porcos, um dos piques da Guerra Fria, que era então vivenciado – e que
seria evocado, de forma discreta, no contemporâneo ao evento O Eclipse. A caracterização visual de
George embora deva ter sido pensada tendo como modelo o protagonista de A Doce Vida soa talvez mais próximo de
alguns protagonistas masculinos das séries de TV como A Feiticeira. O título em português é tão pomposamente folhetinesco
quanto boa parte daqueles que ganhou a produção da época clássica
hollywoodiana. Fade to Black Prod. para The Weisnten Co. 99 minutos.
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