Filme do Dia: Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (1966), Mike Nichols

 



Quem Tem Medo de Virginia Woolf (Who´s Afraid of Virginia Woolf?, EUA, 1966). Direção: Mike Nichols. Rot. Adaptado: Ernest Lehman, baseado na peça homônima de Eward Albee. Fotografia: Haskell Wexler. Música: Alex North. Montagem: Sam O´Steen. Dir. de arte: Richard Sylbert. Cenografia: George James Hopkins. Figurinos: Irene Sharaff. Com : Elizabeth Taylor, Richard Burton, George Segal, Sandy Dennis.

     Após uma festa na casa do sogro, que é reitor da universidade onde trabalha, George (Burton) e sua esposa Martha (Taylor) recebem um jovem casal, Nick (Segal) e Honey (Dennis). Alcoolizados e em meio a uma lavagem de roupa suja, George e Martha comandam uma série de jogos em que acabam desnudando muitos de seus podres, assim como os do casal recém-chegado a uma pequena cidade de Massachussets: a criação de um filho fictício por Martha; o casamento por interesse de Nick; a fraqueza de George diante da forte personalidade do sogro; a falsa gravidez de Honey que levou ao casamento com Nick; as constantes infidelidades de Martha, que fica com Nick, etc. Após o final do tormento, já com a  manhã surgindo, Nick e Honey abandonam a casa, enquanto Martha e George finalmente conseguem  viver um momento de proximidade.

Mesmo que amparando-se, acima de tudo, na engenhosidade das falas da peça do qual foi adaptado, o filme possui virtudes que transcendem o mero teatro filmado, como o virtuoso trabalho de câmera, a bela fotografia e a utilização comedida da não menos bela e melancólica trilha sonora de North. As impecáveis interpretações do elenco e a mescla de drama e pastiche (que nos lembra a ruptura iconoclasta efetivada alguns anos antes por Godard, mesmo que aqui limitando-se ao conteúdo e não se expressando em termos formais) acentuam o charme desse filme que rompe de vez com os parâmetros morais que regiam o cinema americano até então. O uso abusivo de palavrões, a referência explícita ao aborto e um novo retrato das relações entre homem e mulher, que engloba desde a troca de parceiros até a constante humilhação do homem, longe do padrão viril tradicional tornariam-se lugar-comum em pouco tempo, desmascarando muitas das hipocrisias que os filmes preferiam não tocar. Por outro lado as constantes referências a situações da qual não se possui um conhecimento completo – o próprio título do filme faz referência a um momento divertido anterior ao que se inicia a narrativa – o nonsense e as referências a outros filmes (como quando, na abertura, Taylor procura se lembrar do título de um filme que Bette Davis estrelara) são elementos que emprestam um tom moderno ao filme. National Film Registry em 2013. Warner Bros.  122 minutos.

Postada originalmente em 18/08/2014

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