Filme do Dia: A Message from Mars (1913), Wallett Waller
A Message from Mars (Reino Unido,
1913). Direção:
Wallett Waller. Rot. Adaptado: Richard Ganthoney & Wallace Waller, a partir
da peça do primeiro. Com: Charles
Hawthrey, E.Holman Clark, Crissie Bell, Frank Hector, Hubert Willis, Kate
Tyndale, Evelyn Beaumont, Eileen Temple, Robert Compton.
Em Marte, o Deus
(Compton) do planeta designa um condenado a somente retornar ao planeta se
conseguir redimir o mais egoísta terráqueo dentre todos. Um mensageiro marciano
chega a casa de Horace Parker (Hawthrey). Horace tem o seu noivado defeito com
Minnie, que pretendia sair para dançar e se aprontou, mas quando chegou a
residência dele, teve que enfrentar o seu habitual egoísmo. Horace não se
perturba com o fim do noivado e quando vai ligar o abajur, esse se transforma
no mensageiro marciano que lhe prega a necessidade de mudar sua forma de ser.
Ele sai para a rua com Horace e o faz vislumbrar Mnnie se divertindo com outros
homens, porém só consegue com que ele
modifique o seu comportamento quando o transforma em um mendigo, sofrendo as
mesmas vicissitudes de um outro mendigo que recusara a ajudar pouco antes. O
mendigo passa mal diante dele e ele não consegue nenhuma ajuda dos convidados e
da dona da mansão em que se encontram diante. Ele o leva então para sua própria
casa e quando lá o instala, fica sabendo por sua criada de um incêndio em uma
habitação popular próxima da sua. O marciano dá o seu trabalho por terminado e
retorna a Marte. Ele adentra a casa em chamas, algo que nem os membros da
própria família tiveram coragem e salva todas as crianças. Minnie sente que
talvez tenha sido injusta com Horace e retorna. Chegando lá, é informada pela
criada da ação de Horace. Quando os bombeiros chegam, Horace leva toda a família para sua casa. Enquanto o marciano
volta a se tornar um cidadão digno de seu planeta, seu grupo observa o desfecho
da história a partir da bola de cristal
em que a haviam acompanhado desde o início.
Esse filme, tido
como a primeira ficção-científica britânica, curiosamente faz uso de
enquadramentos ainda tão fixos – e geralmente distanciados – quanto o das
produções de anos anteriores, quando Griffith, dentre vários outros, já explorava um modelo inicial de decupagem
da qual não temos notícia aqui. Pelo contrário, dado a sua rigidez e cenários
demasiado estilizados, a primeira cena ambientada em Marte, mais parece um
filme histórico de Roma Antiga tal qual os inúmeros produzidos na Itália por
esses anos, com um cenário pintado que mais remete a esse período da história
que a algo de dimensões futuristas. Os marcianos, mesmo tendo sido sempre
privilegiados no gênero, inclusive literário, aqui surgem como nada distintos
dos humanos, a não ser talvez por seus figurinos bizarros, uma mescla entre
trajes medievais e a Ku Klux Klan. E quando os cenários se tornam mais
trivialmente domésticos, reproduzindo uma casa abastada londrina, evidentemente
não ocorre nenhuma mudança na composição dos planos, portanto quando o
mensageiro que dá título ao filme surge pela primeira vez para Horace, Waller
elabora para que a súbita aparição desse se dê ao fundo da sala em que Horace
se encontra, portanto assustado ele recua para a proximidade da câmera e o
marciano vai de encontro a ele, proporcionando o que seria o pathos necessário,
em termos visuais, para o primeiro diálogo entre ambos. Por vezes, personagens
extraterrestres fazem às vezes, tal como aqueles envolvidos com a dimensão do
paraíso, de transformar as pessoas, tradição que se encontra presente em
ficções produzidas muitas décadas após esse filme, como é o caso de E.T., de Spielberg e, tal como na maior
parte desses, essa missão diz respeito por vezes a um caso específico que um
grupo ou a humanidade como um todo, o que se adequa melhor a tradição
melodramática e literária – Horace seria uma versão mais trivialmente cotidiana
do Scrooge de Dickens, sendo que ao
invés da avareza é o egoísmo que identifica a personagem. Por mais que parta de
uma premissa eminentemente piegas, o filme traz igualmente surpresas como é o
momento em que o mensageiro apresenta a Horace sua mulher se divertindo no
baile, e a tela é algo dividida. Mesmo que não exista exatamente uma sintonia
de ângulos entre o local que Horace olha e o que divisamos na parte maior do
quadro, trata-se de um efeito plenamente incomum, similar ao observado em
alguns filmes do Primeiro Cinema, mas igualmente distinto desse, assim como a
divisão de tela em até três ações, bem mais “organizada” de um filme como o
contemporâneo Suspense. Tão
toscamente esquemático quanto os piores melodramas griffitheanos, tudo é
efetivamente explicado pela “lei do coração” e os casos de sofrimento chegam a
ser literalmente criados tendo como único fim a possiblidade de Horace
despertar para os “verdadeiros sentimentos”. Curiosamente, no entanto, não é
ele quem vai pedir desculpas a Minnie, mas essa que também parece
inexplicavelmente tocada pela magia do anjo marciano, que pede a ele. E, ao
final, o Horace que abre suas portas à família sem teto ou que acomoda um
mendigo que mal dirigira à palavra numa poltrona de sua residência não será tão
ou mais desequilibrado quanto a do início? Destaque para o visor em que os
marcianos acompanham tudo, espécie de duplo do próprio espectador. Hawthrey
revive o papel que desempenhara na Broadway a partir de 1903 por três anos e o
filme também parece ter despertado o interesse do público como acusam as
revistas da época, que mencionam processos legais sobre os seus direitos. United Kingdom
Photoplays. 60 minutos.
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