Filme do Dia: Saudações, Cubanos! (1963), Agnès Varda
Saudações, Cubanos! (Salut les Cubains,
França/Cuba, 1963). Direção Agnès Varda. Fotografia Per Olaf Csongova, J.
Marques & Agnès Varda. Montagem Janine Varneau.
Varda (influenciada pelo contemporâneo La Jetée?, lançado no ano anterior) transforma seu registro da revolução
cubana, em uma soma de vários registros fotográficos. Uma experiência
interessante, tratando-se de alguém com formação em fotografia. E a ganhar seu
ápice, quando praticamente sincroniza a voz de um cantor cubano às fotos
tiradas em sequência de frações de segundos do mesmo a cantar. Estendendo o
gesto, com menor precisão, a seus passos de dança. Trata-se de Benny Moré, que
logo Varda chocantemente irá nos situar ter morrido antes da conclusão deste
curta – em decorrência de problemas vinculados ao seu alcoolismo, detalhe
extraído de seu perfil. Outro momento de proeminência criativa de montagem, é o
da chegada de um grupo de músicos, a executarem números “que talvez sejam uma
rumba”, e a reação da população, formando pares para dançar, e ritmadamente
associada à música instrumental ouvida na banda sonora, ocorrendo inclusive
repetição das mesmas fotos, uma recorrência ao longo da produção. E, não menos
que magistralmente, na dança do pessoal de cinema, sobretudo nos gestos de Sara
Gómez. Que depois se espalharão para muitas outras situações e personagens,
muitos deles já anteriormente observados, como se metonímia fossem do espírito
revolucionário. A narração over é
compartilhada entre uma voz masculina, a cargo do ator Michel Piccoli, e outra
feminina, da própria realizadora. Dentre as observações mais pitorescas destas,
encontra-se a de observar o gesto comum nos homens cubanos de pôrem seus braços
nos ombros das mulheres que são suas companheiras. Há um tom revolucionário
romântico e a fatura dele ser associado a própria Varda se encontra, por
exemplo, no relato objetivo de Piccoli sobre os 82 revolucionários embarcados
em um bote pequeno para tanta gente, dos quais apenas 12 sobreviverão ao ponto
de chegarem às serras onde deflagrarão a guerrilha revolucionária, entrecortado
pelas saudações de Varda a pontuarem sua fala. Outro momento a exalar este
romantismo, é a afirmação de uma Cuba livre (sem sequer pedir o perdão pelo
trocadilho) na obra de um artista plástico a praticar abstrações, quando se
sabe do quanto se gerou de divisão no mundo intelectual cubano as polêmicas
suscitadas pelo curta P.M., dois anos antes. Este comentário surge ao
final de um apanhado de grandes nomes da cultura cubana.s Realizado no auge do
encantamento da classe artística e internacional com a revolução cubana, a
opção pelo documentário vem se somar a uma produção já afluente deste modo
cinematográfico no próprio país, por motivações práticas e ideológicas. E já
existe uns poucos longas a serem citados, embora a produção de curtas,
congênere do próprio filme em sua metragem, e de provável maior penetração
junto à população local, é deixada de lado.
Entre os agradecidos, encontra-se a realizadora cubana Sara Gómez
(“Sarita Gómez”). Ela vem a ser lembrada quando se fala do ICAIC, o órgão
cubano associado ao cinema. |Ciné-tamaris/Société Nouvelle Pathé Cinéma. 29 minutos e 18 segundos.
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