Diretoras de Cinema#16: Márta Mészáros



MÉSZÁROS, MÁRTA  (1934*-). Hungria. Nascida em Budapeste e educada na VGIK, em Moscou, Márta Mészáros é a única diretora húngara que lidou quase exclusivamente com questões de mulheres. Ela é também uma das poucas mulheres realizadoras da Europa Oriental a possuir um corpo de trabalho substancial. Apesar de confiantemente asseverar "Eu nunca realizei um filme feminista" (H26) em um entrevista com Annette Insdorf, a obra de Mészáros define o termo. Mészáros concorda que seus filmes são "carregados por esta corrente" (H26) do feminismo, observando que Adoção (1975) "não é necessariamente um filme feminista, mas que tudo que você precisava à época era de uma forte personagem femininna independente para o filme ser categorizado desta forma." (H26) Mészáros não gosta de ser rotulada como feminista, porque não deseja se alinhar com um movimento que observa como sendo "contra os homens" (H26); no entanto, sente ser seu dever fazer filmes a respeito de mulheres. Mészáros é constantemente interessada em explorar suas experiências autobiográficas. Ela desmonta a identidade e as políticas das estruturas sociais, familiares e ideológicas que se combinam para formar a identidade. Continuamente mapeia seus filmes como um palimpsesto de sua própria experiência vivida, particularmente questões de parentesco, exílio e abandono. Em 1938 seu pai, um renomado escultor, foi preso e detido pelas autoridades soviéticas e executado. Como Mészáros explica: "Em todos os meus filmes - não apenas em Diário para as Minhas Crianças - é a minha história que estou contando. O problema da criança que é abandonada sozinha no mundo, buscando pelos pais, tem sido uma impressão dominante para mim." (H21) Mészáros perdeu sua mãe, uma talentosa artista, para uma epidemia de febre tifóide em 1942, quando Mészáros tinha 11 anos. Em 1960 Márta Meszáros casou-se com o diretor de cinema Miklós Jancsó, com quem teve três filhos. Divorciaram-se em 1973. 

Ainda que tenha trabalhado consistentemente enquanto diretora, apenas recentemente foi apropriadamente reconhecida pelas críticas de cinema feministas ocidentais, devido o desconhecimento de seus filmes fora da Hungria. Provavelmente seu filme mais conhecido é Diário para Minhas Crianças (1982), ainda que A Garota (1968), Riddance (1973) e Nine Months (1976) estejam disponíveis em vídeo nos Estados Unidos. A Garota, o primeiro longa-metragem dirigido por uma mulher na Hungria é um explêndido filme em preto&branco da Nova Onda, que segue uma jovem enquanto busca por sua mãe. Ela a encontra, e a mãe não está interessada nela, demonstrando desprezo e um desejo de privacidade mais que afeição. A sensação de perda e privação é retratada de forma intensa em um estilo de direção plano, que serve como contraponto ao material doloroso. A direção de Mészáros clama por reações discreetas e mudas. Isto é consistente ao longo da obra de Mészáros, incluindo Diário, no qual proporciona  quase nada a fazer à figura central. Como contou a Insdorf, "os conflitos são praticamente invisíveis - a emoção não aparece. Prefiro um tipo de pseudo-realismo, que é somente superficialmente realistíco: na verdade eu abstraio muito." (p. 21) Mészáros prefere observar, mais que comentar. Em seus filmes, tais como Riddance e Adoção, Mészáros utiliza um estilo de cinematografia quase clinicamente detalhista. Os filmes de Mészáros descrevem mulheres alienadas ou órfãs ou mulheres que possuem mães severas e difíceis. Catherine Portuges, em seu livro sobre Márta Mészáros, observa que ela, ao contrário das realizadoras ocidentais, dá um tratamento diferenciado às mães:

Mészáros negocia a subjetividade feminina no contexto do complexo de Édipo. A figura maternal, como no caso da stalinista Magda, é frequentemente construída como uma "mãe má", uma presença estorvante ou punitiva, que pode parecer dura ao espectador ocidental acostumado a uma agressividade mais encoberta. (p. 9)

Portuges nos lembra que esta diferença pode ser explicada se levarmos em conta as diferenças culturais nas identidades de gênero. As concepções de Mészáros das relações de mãe-filha nunca são fáceis de discernir ou são sobredeterminadas. Como sempre, "o efeito que Mészáros conquista é complicar seu assunto, dando-o contextos múltiplos." (Gentile, p. 103)

Tematicamente, Mészáros trabalha através de questões de identidade, desvio, Stalinismo, intimidade erótica e rebelião feminina. Diário para Meus Amores (1987) é um retrabalho autobiográfico ao redor de certos temas. No filmes, Mészáros incorpora filmagens documentais de pessoas lhe falando para não se tornar diretora, mas atriz. Diário para Minhas Crianças (1982) mescla imagens documentais de cinejornais dos anos 50 com narrativas pessoais da perda familiar de Mészáros e sua busca por uma relação significativa que permita espaço e autonomia, assim como afeto e apoio. O filme ganhou o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes em 1984. Mais recentemente, Mészáros completou um filme-diário para seus pais (Diário para Meu Pai e Minha Mãe, 1990). Atualmente se encontra na produção para A Santa Morada - Santa Edith Stein, uma biografia da filósofa Edith Stein,

BIOGRAFIA SELECIONADA

Eltdvozott nap (The Girl) (1968)

 A holdudvar (Binding Sentiments) (1969) 

 Szep lanyok, ne sirjatok (Don't Cry, Pretty Girls) (1970) 

 Szabad lelegzet (Riddance) (1973) 

 Orokbefogadds (Adoção) (1975) 

 Kilene honap (Nine Months) (1976) 

 Ok ketten (The Two of Them [Women]) (1977) 

 Olyan mint otthon (Just Like at Home) (1978) 

 Utkozben (On the Move) (1979) 

 Orokseg (The Heiresses) (1980)

 Anna (Mother and Daughter) (1981) 

 Naplo gyermekeimnek (Diário para Minhas Crianças) (1982) 

 Delibdbok orszdga (The Land of Mirages) (1983) 

 Naplo szerelmeimnek (Diário para Meus Amores) (1987)

 Little Red Riding Hood—Year 2000 (1989) 

 Diário para Meu Pai e Minha Mãe (1990) 

 Looking for Romeo (1991) 

BIBLIOGRAFIA SELECIONADA

Gentile, Mary C. Film Feminisms. Westport, CT: Greenwood Press, 1985. 

 Goulding, Daniel J., (org.) Post New Wave Cinema in the Soviet Union and Eastern Europe. Bloomington: Indiana University Press, 1989. 

 Gyertyan, Ervin. "Look Back in Compassion: Meszaros: Naplo gyermekeimnek (Diary for My Children); Janos Xantus: Eszkimo Asszony fazik (Eskimo Woman Feels Cold).''' New Hungarian Quarterly 25.96 (inverno 1984): pp. 217 -22.

 Insdorf, Annette. "Childhood Loss Shapes a Director's Life and Art." New York Times, 25/10/1984, H21, H26. 

 Martineau, Barbara. "The Films of Marta Meszaros, The Importance of Being Banal." Film Quarterly 34.1 (1980): pp. 21-27.




















* No IMDB consta 1931 como ano de nascimento de Mészáros.

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