Filme do Dia: Retorno à Normandia (2007), Nicolas Philibert
Regresso à Normandia (Retour en Normandie,
França, 2007). Direção e Montagem: Nicolas
Philibert. Fotografia: Katell Dijan.
Nesse documentário, Phillibert (de Ser e Ter) reencontra trinta anos após
o elenco amador que protagonizou Eu,
Pierre Rivière, Que Degolei Minha Mãe, Meu Irmão e Minha Irmã (1976), de
René Alio. Alguns dos motivos que o levaram a ir atrás dos participantes da
produção surgem logo ao início - o próprio Phillibert havia trabalhado enquanto
técnico na produção, no início de sua carreira – outros ele deixa para o final
– seu pai, assim como o próprio autor do livro a partir da biografia do próprio
Rivière, Michel Focault, haviam feito pontas no filme que acabaram não chegando
à versão final. Ao final, Philibert rende sua homenagem, incluindo sua
participação não sonorizada no filme. Curiosamente, dado o relativo estado de
conservação da cópia que foi aproveitada as imagens do filme dos anos 1970 para
essa produção e a ausência de uma dissonância muito grande entre o padrão de
imagem do filme antigo e do documentário atual, inicialmente até se pode
imaginar que o próprio Phillibert havia reconstruído algumas das cenas do
texto. Não é o caso. Quando se compara o
projeto de Phillibert com outra proposta semelhante de se fazer um retorno aos
membros, igualmente amadores, de uma produção cinematográfica do passado, como
é o caso de Cabra Marcado para Morrer,
percebe-se o quanto os propósitos de Phillibert, talvez mais condizentes com o
seu próprio tempo, são bem mais modestos. Falta uma intersecção maior entre as
imagens do filme e as pessoas hoje. Uma exibição coletiva, então, nem sequer
chega a ser alentada. Aqui, investiga-se tudo a conta-gosta e de forma mais
intimista e particularizada, vendo o reflexo dessa produção na vida de pessoas
hoje em sua maior parte de meia-idade ou de idade já bem mais avançada. O que
eles tem a dizer, evidentemente, não traz nada de excepcional ou lança luz seja
sobre a produção de Alio, seja sobre qualquer outra questão mais ampla. Não se
trata, como em Coutinho, de se atrelar a história pessoal à história política
do país ou mesmo a questões que digam respeito a loucura na época de Rivière,
na época em que o filme foi produzido ou contemporaneamente. Por outro lado,
partindo do recorte efetuado por Philibert tampouco se avança além do trivial.
Sem uma coisa ou outra, ou seja, sem transcender a questão da produção para
conectá-la com questões mais amplas, mas tampouco conseguindo um nível de
integração que consegue ir além da superfície por seus entrevistados, tornando
eles próprios motivos de atração, tal como faz o humanismo despojado de Varda
em documentários como O Respigador e as Respigadoras, o documentário acaba se tornando cansativo, sendo menos
interessante por si próprio do que chamando a atenção para um filme pouco
conhecido. À guisa de tentar criar alguma “sensação”, Philibert ainda envereda
pelo suposto desaparecimento do protagonista do filme de Alio que, pouco
depois, já surge, hoje como padre, reencontrando alguns com quem havia
contracenado. Há momentos ainda para pequenas digressões, como a dos laboratório Eclair, que surgiram
praticamente com o próprio cinema e se encontram ameaçados de fechar em tempos
nos quais prevalece o tratamento digital da imagem. CNC/CANAL +/France
Télévision Distribuition/Les Films d´Ici/Maia Films/TPS Star/arte France Cinéma
para Les Films du Losange. 113 minutos.
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