O Dicionário Biográfico de Cinema#244: Rebecca De Mornay

 


Rebecca De Mornay, L. Angeles, 1961

A este ponto, sinto alguma obrigação de oferecer caneta e papel ao New Republic, de Stanley Kaufman: nenhuma atriz, em tempos recentes tem desfrutado de apoio mais galante, perseverante ou inteligente que Mrs. de Mornay tem tido de Mr. Kaufmann. Se ao menos ele pudesse confiavelmente colocá-la numa sequencia de filmes mais valiosos - exceto que o Sr. K., que de maneira alguma é jovem, poderia explodir (aqui haveria tema perfeito para von Sternberg, Michael Powell...ou tantos.)

Sobre qualquer medida, os arrebatamentos de Mr. Kaufmann são compreensíveis. Espero que possa compreender que não estão sozinhos. A Sra. De Mornay é uma suntuosa loira de pálidos olhos azuis, cuja inteligência lhe confere uma certa aura de serenidade, ou de estar pensando em algo diferente. Naturalmente, em grandes papéis - Hedda Gabler, Elektra ou Blanche DuBois - sua aparência e sua mente poderiam se ajuntar com um clique bastante satisfatório. Mas existe uma possibilidade que sua inteligência possa ser ligeiramente aturdida ou amedrontada por sua beleza; de fato pode ser provocada por ela. Como mulher unificada, pode-se provar um pouco menos misteriosa - não que Hollywood pretenda modificá-la dos papéis listados abaixo.

Assim, The Hand that Rocks the Cradle [A Mão que Balança o Berço] (92, Curtis Hanson) pode ser tão bom quanto possível: um enredo requentado habilidoso e desinibido, mas fundamentado em um interesse psicológico incomum, com as farpas no roteiro de Hanson dependendo da autenticidade e precisão da atriz. (Hanson pode ter sido grandemente astuto em ter elencado De Mornay e Annabella Sciorra como mãe e babá - porque De Mornay possui uma serenidade e Sciorra uma inaptidão de tirar o fôlego que pode parecer deslocada, mas bastante reveladora). Claro, De Mornay somente pode insinuar um desarranjo comovente na babá e proporcionar um pouco mais de destaque a muitos momentos do que merecem. O projeto não  sustentou unidade ou desenvolvimento e então as verdadeiras epifanias da atriz certificam o nosso desapontamento final, assim como certamente proporcionam energia à malícia climática da personagem. Boas atrizes merecem pessoas melhores para interpretar.

De Mornay possui uma ascendência europeia (outra sutil subliminaridade contra o mainstream) assim como uma educação no Instituto Lee Strasberg. Foi uma cliente perspicaz, engraçada e totalmente memorável em One from the Heart [O Fundo do Coração] (82, Francis Coppola) e então a prostituta dos sonhos de uma criança em Risky Business [Negócio Arriscado] (83, Paul Brickman). O primeiro sucesso estrondoso foi tão irreal e agudo quanto o Berço, e empregou o mesmo fraco onirismo ou distanciamento distraído na interpretação da atriz. No processo, reduziu talvez 90% do público masculino ao nível dos sonhos de Tom Cruise.

Esteve em Testament [O Testamento] (85, Lynne Littman); dificilmente reconhecível, mas valente e feroz em Runaway Train [Expresso para o Inferno] (85, Andrei Konchalovski). Foi uma atriz polivalente dentro dos campos em The Slugger's Wife [História de um Amor] (85, Hal Ashby). Foi permitida ser uma atriz em The Trip to Bountiful [O Regresso para Bountiful] (85, Peter Masterson) - você se lembra? Encarou as "necessárias escolhas de carreira" em And God Created Woman [E Deus Criou a Mulher] (87, Roger Vadim); e teve que assumir responsabilidades por Feds [Deu a Louca nas Federais] (88, Dan Goldberg) e Dealers [Uma Jogada de Milhões] (89, Colin Bucksey). Esteve também em Backdraft [Cortina de Fogo] (91, Ron Howard); Blind Side [Chantagem Fatal] (93, Geoff Murphy); Guilty as Sin [Culpado como o Pecado] (93, Sidney Lumet); e The Three Musketeers [Os Três Mosqueteiros] (93, Stephen Herek).

Muito de seu trabalho posterior foi somente na TV, e não muito notável: Getting Out [Dominada pelo Ódio] (94, John Forty); Never Talk to Strangers [Nunca Fale com Estranhos] (95, Peter Hall); The Winner (96, Alex Cox); Wendy na versão para a TV de The Shining [O Iluminado] (97, Mick Garris); The Con [E O Feitiço Virou Contra o Feiticeiro] (98, Steven Schachter); Thick as Thieves [Contragolpe] (99, Scott Sanders]; Night Ride Home (99, Glenn Jordan); A Table for One [Louca Obsessão] (99, Ken Senkowski); Range of Motion (00, Donald Wrye); The Right Temptation [Dupla Tentação] (00, Lyndon Chubbuck); Salem Witch Trials [As Bruxas de Salem] (01, Joseph Sargent); Identity [Identidade] (03, James Mangold) - "Você não costumava ser atriz?", alguém pergunta a ela. 

Esteve em Raise Your Voice [Na Trilha da Fama] (04, Sean McNamara); Lords of Dogtown [Os Reis de Dogtown] (05, Catherine Hardwicke); Wedding Crashers [Penetras Bons de Bico] (05, David Dobkin); American Venus (07, Bruce Sweeney); Music Within [O Poder da Esperança] (07, Steven Sawalich); Flipped [O Primeiro Amor] (10, Rob Reiner); voltando à ameaçar em Mother's Day [Dominados pelo Ódio] (10, Darren Lynn Bousman); Collar (11, David Wilson); Apartment 1303 3D (12, Michael Taverna).

Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. N. York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 682-84.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

Filme do Dia: El Despojo (1960), Antonio Reynoso