Filme do Dia: Tigre Reale (1916), Giovanni Pastrone

 


Tigre Reale (Itália, 1916). Direção: Giovanni Pastrone. Rot. Adaptado: Giovanni Verga, a partir de seu próprio romance. Fotografia: Segundo de Chomón & Giovanni Tomatis. Com: Pina Menichelli, Alberto Nepoti, Febo Mari, Valentina Frascaroli, Ernesto Vaser, Enrico Gemelli, Gabriel Moreau.

Giorgio (Nepoti), diplomata italiano, apaixona-se pela condessa russa Natka (Menichelli), que é casada e o  repele e, ao mesmo tempo, estimula sua proximidade. Ela lhe conta sobre um amor atormentado que teve por um estudante polonês, Dolksi (Mari), que findou em suicídio. Quando Giorgio já se encontra em vias de embarcar para Lisboa, onde servirá, Natka o convida para ir a uma ópera e lá, enlevada pela mesma, beija-o rapidamente. Após se encontrar decidido a esquecer  tudo e noivar, Giorgio recebe uma missiva onde Natka afirma que cumprirá sua promessa de morrer ao seu lado. Porém, surpresas os aguardarão.

Talvez temendo o próprio ridículo, Pastrone assinou tal produção com o pseudônimo de Piero Fosco, enquanto Verga, nome eminente da literatura italiana e modelo para um projeto de realismo que surgirá nos últimos anos do fascismo e que se concretizará, sobretudo, em A Terra Treme, mesmo assinando com seu nome tinha um evidente menosprezo pelo cinema, ainda que fosse pragmático o suficiente para lucrar com a venda de suas obras para o mesmo. Se Cabíria, o filme mais lembrado de Pastrone, realizado no mesmo ano que esse, possuía algumas cenas com intricados movimentos de câmera, aqui igualmente existe ao menos dois momentos em que a câmera sai de seu imobilismo e se desloca seja no toucador de Natka seja no camarote do teatro em que se encontra acompanhada de Giorgio – sendo nesse o movimento particularmente “excêntrico” ; será que os mesmos se encontrariam vinculados à figura de Segundo de Chamón, realizador mais profícuo do filme de trucagens no estilo de Méliès após o próprio, como diretor de fotografia. A diva Menichelli vive sua tresloucada, voluntarista e fatalista personagem com laivos da histeria saracoteante das pacientes de Charcot em um patético tom digno do riso involuntário. Tirando partido da cena de incêndio, bastante a calhar tendo em vista o desejo da heroína, ocorre, no entanto, um final surpreendente e algo abrupto no desfecho da narrativa. É curioso como o suicídio é apresentado em produções de época de uma forma crua, como só voltaria a ser em algumas produções após o final do cinema clássico – tanto aqui como em A Mormon Maid observamos personagens a dispararem contra suas própria têmperas com resultado de um realismo algo grotesco. Também nada incomum é a forte presença epistolar – no caso as cartas de uma sempre intensa Natka. E nada mais apropriado, para alguém tão afetada quanto Natka que morrer em um “hotel teatro”. Embora tenha atuado em mais de 60 produções, a carreira de Menichelli é interrompida antes mesmo do surgimento do cinema sonoro. Itala Film. 76 minutos.

 

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