Filme do Dia: Alberto Cavalcanti (1970), Alfredo Sternheim
Alberto
Cavalcanti (Brasil, 1970). Direção, Fotografia e Montagem Alfredo Sternheim.
Documentário
com gosto de “serviço público” de burocrático que é. Os filmes que Cavalcanti
realizou para a vanguarda francesa são meramente citados e apresentadas algumas
fotos. O realizador é entrevistado e afirma, de modo constrangedor, que o que
ganhava como arquiteto era a mesma quantia da faxineira de seu apartamento,
resolvendo então ser decorador. E seria um ótimo espaço para se aprender um
pouco mais sobre a produção de Cavalcanti na França, para além do seu mais
famoso Nada Além das Horas. E o mesmo vale para sua produção na Escola
Documental Britânica, onde sequer se enfatiza o quão valoroso foi o trabalho de
Cavalcanti para incrementar esteticamente esta produção, sobretudo através do
uso original do som. O primeiro filme do realizador que aparece cenas é North
Sea. De forma sutil, Cavalcanti dera a entender, pouco antes, que quem
ditara os rumos aos quais se encaminharia o documentário, afastando-se de
Flaherty, fora ele e que seu talento para este modo narrativo adveio não por
conta do contato com os realizadores britânicos ou o seu pretenso
mentor-produtor, John Grierson, mas de sua obra mais lembrada dos tempos mudos
e da vanguarda francesa. Seguido de imagens do que é considerado a obra-prima
do realizador junto aos documentaristas britânicos, Nightmail, cujo título
é citado com uma pronúncia equivocada, destacando o momento da poesia de Auden.
Quando se volta para a ficção, acentua o episódio dirigido para o filme
coletivo No Silêncio da Noite “como o mais expressivo de sua carreira”.
Chamado para a dirigir a Vera Cruz em 1949, Cavalcanti “apesar de seu êxito”,
“não hesitou” – esta é uma meia-verdade, pois a carreira do realizador na
Inglaterra, não estava parada, mas tampouco em seus dois últimos filmes
demonstrava a pujança de Nas Garras da Fatalidade – sequer citado pelo
documentário ou – ainda mais - o referido episódio. De toda forma, e é algo que
não vem a ser ressaltado pelo documentário, o realizador não temia mudanças,
mesmo quando se encontrava bem acomodado a determinada situação. Foi assim na
França, embora a emergência do sonoro tenha seu peso, e igualmente com a Escola
Documental e depois a indústria de cinema britânicas; talvez este elogio tenha
sido feito pelo próprio realizador, que não se escusou em realizar um
documentário de mais de duas horas em meia, a cantar suas próprias façanhas (Um
Homem e o Cinema, de 1977). Da Vera Cruz é ressaltado Caiçara,
produzido por ele e “não só o primeiro filme” da produtora, “como o primeiro
filme completamente planejado do Brasil.” Por quais motivos Cavalcanti foi
rapidamente demitido e foi dirigir sua primeira produção após o retorno ao
Brasil na Mariestela, é melhor silenciar. Trata-se de Simão, o Caolho. A
primeira e última polêmica vem neste momento de retorno ao Brasil, em que os
elogios se dividem com as críticas a sua formação europeia. Fumando e com
movimentos na face ainda mais acentuados, Cavalcanti critica o nacionalismo no
cinema brasileiro – crítica provavelmente endereçada aos realizadores do Cinema
Novo. |Instituto Nacional de Cinema para CTAv. 18 minutos e 8 segundos.
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