Filme do Dia: Romance em Alto Mar (1948), Michael Curtiz
Romance em Alto Mar (Romance on the High Seas, EUA, 1948).
Direção: Michael Curtiz. Rot. Adaptado: Julius J. Epstein, Philip G. Espstein
& I.L. Diamond, a partir do conto
Romance in High C, de Sixto Pondal Ríos & Carlos A. Olivari.
Fotografia: Elwood Bredell. Música: Ray Heindorf & Oscar Levant. Montagem:
Rudi Fehr. Dir. de arte: Anton Grot. Cenografia: Howard Winterbottom.
Figurinos: Milo Anderson. Com: Jack Carson, Doris Day, Janis Paige, Don DeFore, Oscar Levant, S.Z.
Sakall, Fortunio Bonanova, Eric Blore, Leslie Brooks.
Elvira Kent (Paige) é uma socialite
nova-iorquina que se torna obcecada com a ideia que seu marido, Michael
(DeFore) a trai. Algo que também passa pela cabeça dele a todo o momento em
relação a ela. Ela contrata a sonhadora cantora desconhecida Georgia Garrett
(Day) para se fazer passar por ela e embarcar em um transatlântico que parte
com destino ao Rio de Janeiro, permanecendo em Nova York para vigiá-lo. Ele,
por sua vez, contrata o detetive Peter Virgil (Carson) para vigiar a mulher na
viagem. No mesmo navio vai o pretendente
a namorado de Garrett e seu par musical, Oscar Farrar (Levant). A confusão se
torna certa, quando Virgil flagra a pretensa Elvira no quarto com Oscar e,
pouco tempo depois, flertando com ele próprio.
Essa estreia de Day no cinema somente
a coloca nos créditos atrás de Paige (ambas vivas 70 anos após o filme ter sido
realizado) provavelmente por ser justamente sua estreia já que ela, ao
contrário de sua contraparte latina Carmen Miranda, ao qual nunca foi além de
uma coadjuvante de luxo em suas produções, e já em declínio na carreira no
momento dessa produção, efetivamente é a personagem principal do filme. Se a
carreira de Miranda já começava a entrar em ocaso, o mesmo não pode se dizer de
seu legado, já que essa produção praticamente se apodera de toda a estrutura da
comédia mesclada com musical da rival Fox, temperado igualmente em brilhantes
cores Technicolor e, mais que isso, com a presença de um Rio de Janeiro que identicamente
não vai além de imagens de fundo filmadas em locação mas não saindo dos
interiores do hotel onde os personagens se hospedam; e, à guisa de um toque de
tempero local exótico, existe momentos como
a ponta de uma mulher que fala ao telefone em português, com evidente
sotaque norte-americano ou uma representação do que seria um baile carnavalesco
carioca, rapidamente seguido pela balada lacrimosa interpretada por Day que
encerra o filme – e tanto é que seu personagem possui de longe mais destaque
que o beijo final dela com Virgil é que fecha a narrativa, esquecida do casal
até então desconfiado de seus pares. Mesmo travestida enquanto a ricaça
Elvira, quem consegue Georgia atrair e
se apaixonar é ninguém menos que outro pobretão como ela, sendo aqui uma
daquelas comédias de equívocos em que os personagens se identificam por seus
gostos e atitudes de classe, mesmo quando um deles tenta acobertá-los, algo que
pode ser observado de maneira didática quando o futuro casal se encontra
igualmente constrangido por se vestirem de forma excessiva para a primeira
noite no cruzeiro. O toque malicioso dos diálogos talvez se deva a presença de
Diamond, futuro parceiro de Wilder, entre os colaboradores do roteiro e Day é
observada aqui como uma garota despretensiosamente interessada em homens de
forma mais livre que sua persona demasiado blindada (dignidade em Ama-meou Esquece-me, timidez e pouca feminilidade em Ardida como Pimenta, a “eterna virgem” dos romances com Rock
Hudson) posteriormente. Ainda que tal desenvoltura não se concretize no plano
dos números musicais que, sejam com motivação diegética ou simplesmente
enquanto expressão dos “sentimentos” da personagem, são mais bem comportados ou
exigem menos fisicamente da atriz que nas duas produções da década posterior
acima citadas. Warner
Bros./Michael Curtiz Production para Warner Bros. 99 minutos.
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