The Film Handbook#211 G.W. Pabst
G.W. Pabst
Nascimento: 27/08/1885, Raudnitz, Tchecoslováquia
Morte: 29/05/1967, Viena, Áustria
Carreira (como diretor): 1923-1956
Conceituado, ambicioso e tecnicamente sólidos, os primeiro filmes alemães de George Wilhelm Pabst parecem menos impressionantes com o passar dos anos, embora sua obra posteriormente tenha sido grandemente negligenciada. Apesar de ter sido aclamado por sua perspicácia psicológica e comprometimento humanista, muitos de seus filmes agora parecem meramente eficientes, notáveis, sobretudo, por suas interpretações fortes e uma auto-confiante criação de atmosfera.
Pabst passou quinze anos atuando e dirigindo para o teatro antes de se voltar ao cinema como assistente de diretor e roteirista. Sua estreia no longa metragem, O Tesouro/Der Schatz, foi um exercício expressionista, enquanto Rua sem Alegria/Die Freudlose Gasse>1, realizado dois anos após, e estrelado por Greta Garbo e Asta Nielsen, foi louvado por sua comparação relativamente realista da crise moral e econômica que afetava a Europa com os sofrimentos da inflação do pós-guerra; porém, apesar de sua melancólica e sombria fotografia, refletindo o pessimismo básico do filme, frequentemente o tratamento de Pabst resultou em melodrama. Segredos de uma Alma/Geheimnisse einer Seele recorreu a teoria psicanalítica freudiana para ilustrar as ansiedades de um homem por meio de imagens oníricas simbólicas, sendo ambicioso e inteligente, porém fracassando no que parece ser o senso de sua própria importância, enquanto O Amor de Jeanne Ney/Die Liebe der Jeanne Ney, tendo como pano de fundo a revolução e o exílio, impressiona menos por seu controverso romance entre um comunista russo e uma burguesa francesa, que pela interpretação precisamente detalhada que Pabst solicitou de Brigitte Helm. De fato, ele foi um diretor adepto de atrizes, A Caixa de Pandora/Die Büchse der Pandora>2 permanecendo seu filme mais poderoso graças a inspirada escalação de Louise Brooks como a Lulu de Wedekind, cuja ousada sexualidade inadvertidamente enreda e destrói os homens, antes de resultar em sua própria morte nas mãos de Jack, o Estripador. O hábil traçado da decadência e hipocrisia que circunda sua libertária heroína, a fotografia de texturas ricas criando um universo convincentemente corrupto de prazeres irresponsáveis; porém é Brooks, espontaneamente sensual, amoral e vital, que agrega uma complexidade emocional frequentemente ausente de outras obras do diretor.
Brooks apareceu novamente no ainda mais pesado Diário de uma Perdida/Tagebuch einer Verlorenen>3, história esquemática e previsível da odisseia da filha de um farmacêutico da loja ao bordel, passando pelo reformatório; apesar de extrair outra soberba interpretação da atriz, a perspectiva moral de Pabst sobre seu material foi confusa, dividida entre um interesse mais voyeurístico em todas as coisas sórdidas e sádicas e uma simpatia mais humana pelo dilema da garota. Desprovido da presença animada de Brooks, no entanto, seu primeiro filme sonoro, Guerra! Flagelo de Deus/Westfront 1918: Vier von der Infanterie, demonstrava um retorno a um academicismo mais liberal, seus sentimentos pacifistas beirando o solene. Ao contrário, A Ópera dos Três Vinténs/Die 3-Groschen Oper>4 foi uma adaptação efetivamente atmosférica do musical de Brecht e Weil, ainda que Brecht, infeliz com o modo que sua sátira anti-capitalista foi mitigada, iniciou um mal sucedido caso judicial contra os produtores do filme. Ainda assim, o senso de decoro e sua habilidade com os atores certificaram uma visão distintamente cinematográfica do submundo londrino de cafetões, prostitutas e corruptos políticos do original. Mais simplisticamente anti-establishment foi A Tragédia da Mina/Kameradschaft>5, tenso mas risivelmente idealista chamado para a unificação dos trabalhadores de todos os países, com mineiros alemães escavando no limite da fronteira nacional (contra os interesses dos patrões) para resgatar seus companheiros franceses presos em um túnel. O uso sutil do som e soberba evocação do estúdio dos sombrios túneis subterrâneos por Pabst contribuíram para o tenso suspense, ainda que sua mensagem política seja ingênua e fácil em suas oposições polarizadas.
Após abandonar a Alemanha após a ascensão de Hitler, Pabst não conseguiu recuperar seu ritmo; os filmes que realizou na França (para não mencionar Herói Moderno/A Modern Hero, sua produção hollywoodiana) são irregulares e nada memoráveis. Na Segunda Guerra Mundial, por razões que permanecem desconhecidas, retornou à Alemanha, realizando três filmes para os nazistas; ironicamente, seu primeiro projeto do pós-guerra, The Trial/Der Prozess, atacava o anti-semitismo enquanto, de seus últimos filmes, O Último Ato/Der Letzte Akt lida com a derrocada final de Hitler e Aconteceu em 20 de Junho/En Geschah am 20. Juli contava com um complô dos oficiais alemães contra a vida do Fuehrer. Esse foi o vacilante "compromisso" nas últimas etapas de sua carreira. Por fim, após sofrer um derrame, em 1956, abandonaria o cinema.
No seu melhor, Pabst foi hábil em descrever, em detalhes convincentes, uma sociedade em turbulência moral, ainda que suas ambições frequentemente excedam suas habilidades, e os resultados sejam meramente decorativos. Sua obra inicial - revelam-no como produto enfático de seu tempo - serão mais lembradas pelas oportunidades que ofereceram a atrizes como Garbo, Asta Nielsen, Brigitte Helm e Louise Brooks.
Cronologia
As façanhas de Pabst soam distintamente limitadas quando comparadas às de Murnau ou Lang. Qualquer influência duradoura no desenvolvimento do cinema parece ser mínimo, embora seu gosto pelo sórdido realismo psicológico pode ser comparado em inferioridade ao de von Stroheim.
Leituras Futuras
The Haunted Screen (Londres, 1969), de Lotte Eisner. [No Brasil A Tela Demoníaca (Rio: Paz e Terra, 1985)
Destaques
1. Rua das Lágrimas, Alemanha, 1925 c/Asta Nielsen, Greta Garbo, Werner Krauss
2. A Caixa de Pandora. Alemanha, 1929 c/Louise Brooks, Fritz Kortner, Franz Lederer
3. Diário de uma Perdida, Alemanha, 1929 c/Louise Brooks, Fritz Rasp, Josef Rovensky
4. A Ópera dos Três Vinténs, Alemanha, 1931 c/Rudolf Forster, Carole Neher, Lotte Lenya
5. A Tragédia da Mina, Alemanha, 1931 c/Ernst Busch, Alexander Granach, Fritz Kampers
Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 209-10.
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