Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#28: La Tigra


 La Tigra (Ecuador, 1998). Chamado "o primeiro filme de longa-metragem por um diretor equatoriano" por Chris Holmlund (1996, p. 196), La Tigra foi baseado em um conto de mesmo título, escrito por José de la Cuadra. O diretor, Camilo Luzuriaga, estudou engenharia, antes de se envolver com teatro, fotografia e então cinema. Realizou documentários super-8 e, posteriormente, seu primeiro filme em 16 mm, em 1981, após o que passou a ensinar fotografia na universidade. Em 1982, realizou o premiado curta ficcional, Chacón Maravilla, e continuou a realizar outros curtas até 1987, quando se tornou o chefe do Grupo Cine, que produziu La Tigra.

La Tigra inicia com um rápido movimento de câmera às margens de um rio, em um ambiente de floresta, como se representasse uma força mágica. Encontramos três irmãs - Francisca (a tigresa, Lissette Cabrera), a mais velha, Juliana (Rossana Iturralde), e Sara (Verónica García), a mais nova - e testemunhamos Francisca expulsando um homem de sua cama e atirando nele com um rifle. La Tigra se comporta como uma Tarzan feminina e sexualizada, frequentemente deitada de bruços e escassamente vestida. Elas vivem no complexo "Três Irmãs" de prédios, com loja e bar, vizinho a uma fazenda, que também possuem e controlam. Numa cena, ao início, Franscisca e Juliana são vistas em uma árvore por um médico afro-equatoriano, Masablanca, que as adverte que devem se certificar se Sara permanece virgem ou uma tragédia se abaterá sobre eles. Entrementes, Francisca assusta todos os homens que visitam o bar dela, numa ocasião atirando no pé de um homem, homem que havia escolhido para ser seu amante. Também ocasionalmente pega o parceiro de Juliana, Ternerote (Aristides Vargas), para si, e La Tigra é regularmente vista se despindo, aparecendo completamente nua em planos filmados à distância. 

Existem flashbacks ocasionais, de forma mais destacada para apresentar como os pais das garotas foram assassinados, razão para que Francisca atire vingativamente contra todos os bandidos. Assim, entendemos que assim se tornou feliz no gatilho, embora seu desejo por homens não seja tão corentemente motivado. Eventualmente um caixeiro viajante, Don Clemente, apaixona-se por Sara e tenta resgatá-la, mas Francisca conta com seus leais trabalhadores para trazer Sara de volta e seus aposentos trancados com tábuas. Clemente então traz soldados, e La Tigra é assassinada, após permitir que ambas suas irmãs escapem. O tropo recorrente do movimento rápido de câmera, sugerem que o espírito de Francisca foi chamado pela floresta. Ainda que o conto apoie La Tigra e a permita sobreviver, e mesmo florescer, também propicia um contexto político para um contraste entre civilização e barbárie, e sugere que todos os homens, em última instância, são negativos em suas relações com as mulheres. No geral, o filme elide o contexto político e gradualmente desenvolve o personagem de La Tigra como sendo direcionada pela bruxaria, tornando-se uma tirânica "mulher guerreira amazona", empunhando uma machete ou rifle e, embora a carga sexual do filme diminua, na sua primeira metade, algumas vezes se assemelha a um pornô soft. Dificilmente um filme feminista.

Texto: Rist, Peter H. Historical Dictionary of South American Film. Plymouth: Rowman & Littlefield, pp. 556-7. 


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