Filme do Dia: Movimento Reverso (2010), Andrei Stempkovski
Movimento Reverso (Obratnoe Dvizhenie, Rússia, 2010).
Direção: Andrei Stempkvoski. Rot. Original: Givi Shavgulidze, Andrei
Stempkovsky & Anush Vardanyan. Fotografia: Zaur Bolotayev. Música: Ilya
Balaban. Montagem: Dmitri Dunkim. Dir. de arte: Serguei Avstrievskikh.
Figurinos: Nesterenko Olga. Com: Olga Demidova, Vladislav Abashin, Nikita
Emshanov, Aleksandr Plaksin, Darya Grachyova.
Aliya (Demidova), mãe aflita com o
desaparecimento do filho (Abashin) na guerra, afeiçoa-se de garoto órfão
explorado por uma gangue envolvida em atividades ilícitas. Seu filho retorna da
guerra e apenas observa a relação de afeição entre o garoto e a mãe. A gangue recaptura
o garoto e espanca Aliya. Quando seu filho sabe do ocorrido, vinga-se
aprisionando Lena (Grachyova), amiga da mãe associada a gangue, matando vários
de seus elementos, libertando o menino e sendo morto num último momento.
Ao longo do filme paira a sombra do
conflito e é nessa tensão que ele se constrói, representando igualmente a
tensão entre seu estilo mais autoral e convenções associadas mais facilmente
aos filmes de gênero. Tal se dá tanto
pela inclusão de motivos eminentemente melodramáticos, como a “inocência
desprotegida” do garoto-vítima, porém observado com o ascetismo mais próximo do
cinema moderno como – e principalmente – pela cena de massacre final. O modo
como os criminosos são eliminados pelo ex-combatente de guerra mais parece uma
caricatura consciente dos equivalentes em filmes do gênero justiceiro
implacável. E ao se chocarem com o intimismo existencialista mais facilmente
associado ao que o filme havia esboçado até então possam talvez ser criticadas
como uma rendição do filme aos cacoetes mais associados a filmes de maior apelo
popular quanto - e talvez mais
acertadamente – como experimentação dentro dos limites do “comercialmente
tolerável” e longe do radicalismo com que tais misturas forjaram o próprio
cerne da melhor fase de um Godard, por exemplo. Com ausência quase completa de
movimentos de câmera, interpretações contidas, diálogos rarefeitos e
recorrentes composições descentradas – como as que apresentam os personagens em
cômodos distintos – assim como a quase inexistência de uma trilha musical, o
filme se conta primordialmente por sua imagem. Demidova vive uma espécie de Mãe
Coragem, em que toda angústia e revolta, no entanto, são mais observadas de
forma introspectiva, através de seu rosto, do que propriamente extereorizados em
ações físicas de grande carga dramática. Até mesmo quando chora e é consolada
pelo filho, ela se encontra de costas para a câmera. Longa de estreia de
Stempkovski. Mikhail Kalatozov Fund. 93 minutos.
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