Filme do Dia: Infiltrado na Klan (2018), Spike Lee
Infiltrado na Klan (Blackkklansman, EUA, 2018). Direção:
Spike Lee. Rot. Adaptado: Spike Lee, David Rabinowitz, Kevin Willmott &
Charlie Wachtel, a partir do livro de Ron Stallworth. Fotografia: Chayse Irvin.
Música: Terence Blanchard. Montagem: Barry Alexander Brown. Dir. de arte: Curt
Beech & Marci Mudd. Cenografia: Cathy T. Marshall. Figurinos: Marci
Rodgers. Com: John David Washington, Adam Driver, Ken Garito, Michael Buscemi,
Laura Harrier, Alec Baldwin, Frederick Weller, Corey Hawkins, Jasper Pääkkönen,
Paul Walter Hauser, Ashlie Atkinson, Topher Grace, Harry Belafonte.
Ron Stallworth
(Washington) é o primeiro policial negro a ser contratado na racista Colorado
Springs dos idos dos anos 70. Eficiente em serviço, assume em pouco tempo a
função de inteligência, porém terá que lidar com um caso delicado, infiltrar-se
em meio a comunidade negra da cidade, que recepcionará o ex-Pantera Negra Kwame
Ture (Hawkins). No evento, rola uma atração à primeira vista por Patrice
(Harrier), líder estudantil engajada que foi uma das responsáveis pelo evento.
Stallworth consegue, no entanto, desviar o foco de atenção do evento com Ture,
sendo apoiado por seus colegas brancos, notadamente Flip Zimmerman (Driver),
afirmando que o discurso do líder possui muito mais retórica que ação efetiva,
e se encaminhar para um grupo de suprematistas brancos da Ku Klux Klan ou, como
preferem, a Organização, dos quais o mais radical é o alucinado Jimmy Creek
(Buscemi), que pretendem provocar um atentado em meio a visita do importante
veterano líder negro Jerome Turner (Belafonte).
Iniciando com
imagens de ...E O Vento Levou
mescladas com cenas de O Nascimento de uma Nação, que posteriormente será evocado em um momento climático do
filme, já deixa exposto, desde o seu princípio, a sua fatura discursiva
engajada, que infelizmente emoldurará uma narrativa um tanto limitada em sua
busca de realizar – sem consegui-lo – algo com a leveza pop, em termos de
apresentação visual e da própria trama de um Tarantino, resultando em uma
espécie de sub-Jackie Brown. De
fato, a trama soa arrastada e pouco atrativa, apegada a motivos por demais
codificados para soarem minimamente provocativos, quase uma liturgia do
empoderamento negro sem se fechar aos numerosos aliados brancos da empreitada,
sendo que um único policial branco vem a ser o bode expiatório da cultura
racista, em colorações nada distintas do eixo do mal representado pelos
estúpidos membros do Klan. Nessa liturgia, o efeito ready made ofusca qualquer tensão contraditória e o próprio uso das
imagens do cinema, seja na brincadeira com os filmes de blackexpotation, cujas capas de dvds surgem quando são discutidos
pelo casal Ron-Patrice, em chave galhofeira, ou em chave sério-dramática em
relação ao clássico de Griffith, produção discutida simultaneamente tanto na
reunião em tributo a Turner (na verdade, ao cantor e ator bissexto veterano do
alto de seus mais de 90 anos Harry Belafonte). E também exaltada em uma exibição
aparentemente nada verossímil (mas, na vida real, recorrente) em meio ao grupo
de caipiras do eixo do mal, não apenas salientam o óbvio conservadorismo
fascista da produção do célebre realizador mudo, como não deixa de involuntariamente (e de modo perverso)
salientar sua centralidade, dada a importância com que emerge em cena crucial
para o desenlace, em estratégia não muito distante, a seu modo, da montagem
paralela griffthneana. E da leveza relativa de uma história com motivos
belicosos e sórdidos, mas cuja morte, não coincidentemente do mais agressivo
dos suprematistas brancos, vivido com uma máscara psicótica invariável pelo
irmão menos conhecido de Steve Buscemi se parte para os episódios do conflito
em Charlottesville, que resultou no atropelamento e morte de uma ativista pelos
direitos negros, branca, a quem o filme é informalmente dedicado, assim como
imagens do discurso equivocado de Donald Trump, em mais um apelo desnecessário
a redundância muito pouco orgânica com o final do segmento dramático do mesmo.
Sua trilha sonora em nada ajuda no quesito de uma maior sofisticação, mesmo que
pelo viés cômico, dos eventos retratados. 40 Acres & A Mule
Filmwork/Blumhouse Prod./Legendary Ent./Monkeypaw Prod./Perfect World
Pictures/QC Ent. Para Focus Features/Universal International Pictures. 135
minutos.
Comentários
Postar um comentário