Cazuza – O Tempo Não Pára (Brasil,
2004). Direção: Sandra Werneck & Walter Carvalho. Rot. Original: Fernando
Bonassi & Victor Navas. Fotografia:
Com: Daniel de Oliveira, Marieta Severo, Reginaldo Farias, Andréa
Beltrão, Emílio de Melo, Débora Falabella, Cadu Fávero, Pedro Paulo Rangel,
André Gongalves.
Do início da carreira artística no
Circo Voador nos idos dos anos 80 até a consagração e saída do Barão Vermelho
em meados da década e a descoberta da AIDS e agonia final, a trajetória da
estrela pop Cazuza (Oliveira). Levado pelo próprio pai, o produtor musical João
Araújo (Farias), ao estúdio, como forma de tentar desviá-lo de um padrão de
vida excessivamente hedonista, Cazuza e sua banda acabam estourando para a
surpresa do pai, que escuta surpreso uma
gravação que Caetano Veloso fez do filho. Porém, o hedonismo apenas aumenta. No
auge do sucesso do Barão Vermelho, Cazuza decide abandonar a banda, apesar da
intensa amizade com o guitarrista Frejat (Fávero) e parte para carreira solo.
Logo depois da descoberta da doença, Cazuza vai se tratar em Boston, mas ainda
retorna ao Brasil e grava um novo disco com os ex-companheiros e realiza shows
munido com bombas de oxigênio.
O
filme segue o padrão da sua produtora, que tem conquistado um espaço crescente
no mercado exibidor com seus produtos que apresentam um padrão industrial de
cinema eficiente e artisticamente inócuo. Não são nem a caprichada fotografia
nem o bom padrão das interpretações do elenco que vão modificar algo. Antes,
pelo contrário. A eficiente interpretação de Oliviera, por exemplo, apenas se
incorpora ao já vasto filão de produções internacionais sobre celebridades do
mundo do rock, que tem como meta tentar reconstruir, de forma mais
rasteiramente naturalista possível, seus biografados, incorporando desde seus
trejeitos até a semelhança física, como The
Doors. O resultado, como regra, tem sempre um gosto de cópia ou cover no pior sentido do termo. Na
ausência de qualquer maior pretensão reflexiva que vá além dos desgastados clichês
de rebeldia, sexo (aliás muito rarefeito, já que também poderia afastar o
público-alvo por conta de uma classificação de censura mais elevada), drogas e
rock´n roll, incorpora-se uma montagem “dinâmica” e situações de sentimentalismo
fácil para que tais sensações tentem reproduzir a própria verve que o gênero
musical clama para si. Talvez a dupla tivesse conseguido ser mais feliz e
honesta no seu pretenso tributo ao roqueiro morto há quatorze anos, se tivesse
realizado um documentário (Carvalho, por sinal, já possui uma experiência
relativamente bem sucedida na área, Janela da Alma), porém tal gênero ainda não conseguiu romper certas ressistências
nas bilheterias. Enquanto produto empacotado para consumo imediato e talvez despertar
novas gerações que não conheciam a música de Cazuza, o filme passa longe de
qualquer lirismo visual ou de construir dramaturgicamente algo que vá além da
mera superfície, fazendo uso dos tradicionais flashes documentais à guisa de
uma contextualização político-social do período abordado. Não é à toa que a
única dimensão de autenticidade do filme sejam as imagens dos filmetes
domésticos que apresentam o próprio Cazuza antecedendo aos créditos finais.
Globo Filmes para Columbia Tri-Star. 98 minutos
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