Filme do Dia: O Rei Netuno (1932), Burt Gillett
O Rei Netuno (King Neptune, EUA, 1932). Direção:
Burt Gillett. Música: Bert Lewis.
A harmonia do reino de Netuno é
atrapalhada pela súbita presença de um barco pirata cujos homens ficam sedentos
para terem contato com um grupo de sereias. Eles conseguem capturar apenas uma.
E enquanto a torturam e tentam dominá-la a bordo, todo um exército de seres da
natureza marinha se une para libertá-la de seus captores. O golpe de
misericórdia surge quando Netuno, finalmente livre das amarras da âncora
lançada pelo barco pirata, investe contra o navio.
Integrante das Silly Symphonies. Talvez o que mais salte aos olhos muitas
décadas após seja não apenas o relativo grau de “licenciosidade” com relação a
apresentação das sereias, cujos seios são adivinhados mais que propriamente
entrevistos em detalhe e marinheiros bastante sexuados, com sua virilidade exposta
através de fálicos trabucos enfiados em suas calças, mas igualmente o grau de
misoginia e violência a que é exposta a sereia capturada. Tira partido sobretudo, de antropomorfizar
aparatos bélicos a partir do mundo marinho, como baleia que se transforma em
pista de partida para aves projetadas como aviões de guerra. Na parada inicial
que apresenta a perfeita tranquilidade do mundo marinho antes da chegada dos
piratas, no entanto, fica algo ambígua a posição em relação ao universo de
gênero, ao mesmo tempo favorável às sereias, mas de uma forma similar a
tradicional donzela aprisionada, mesmo essa sendo bem menos passiva e atuando
fortemente contra as investidas feitas contra si e aqui observando a diversão
do tipo de um Netuno rodeado por seu “harém” de sereias e tão semi-desnudo quanto
essas. E, por outro lado, os peixes elétricos que acertam descargas em alvos
“vitais” dos piratas, como que uma última pá de cal em sua desmesura sexual.
Moral da história: as relações “convencionais” de um rei com diversas mulheres,
tal como uma transferência das antigas lendas árabes são sinalizadas como
extensão da própria natureza, prejudicada apenas quando uma ameaça
“estrangeira” pretende se imiscuir nesse universo. A determinado instante, sua
trilha musical parece perigosamente se aproximar do tema que ficaria
identificado com Popeye (ou seria o oposto?).
Senão Netuno, a âncora do navio parece um tanto desproporcional, tendo
em vista o gigantismo dessa diante do navio, porém fundamental para o avanço da
narrativa, já que sem ele acorrentado, a situação seria resolvida muito
facilmente. Walt Disney Prod. para United Artists. 7 minutos e 13 segundos.
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