Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#5: Embrafilme
Embrafilme (Brasil)
A Empresa Brasileira de Filmes (Embrafilme), agência de cinema estatal, criada em 1969, pela junta militar provisória durante, talvez, o período mais repressivo da história política do Brasil, foi por longo tempo a mais bem sucedida organização do seu gênero na América do Sul. Fundada inicialmente para promover e distribuir filmes brasileiros no exterior, a Embrafilme foi reorganizada, em 1975, absorvendo as funções executivas do Instituto Nacional de Cinema (INC), que, por sua vez, passou a um novo órgão, o Conselho Nacional de Cinema (CONCINE) em 1976.
Em 1970 a Embrafilme passou a conceder empréstimos com juros baixos para financiar a produção cinematográfica. Doze filmes receberam empréstimos em 1970 e 34 em 1972, mas o sistema foi gradualmente descontinuado entre 1975 e 1979, quando somente 19 produções os receberam. Através do sistema de empréstimos, a produção de filmes de longa-metragem cresceu drasticamente de 53 em 1969 para 83 em 1970 e 94 em 1971. Uma lei de reorganização de 1975 expandiu a extensão da Embrafilme para incluir atividades culturais tais como pesquisa, restauração e conservação dos filmes; a produção e distribuições de filmes educativos e outros filmes não lucrativos; o treinamento de profissionais de cinema; e a publicação de livros e revistas como Filme Cultura. Em seu lado comercial, a Embrafilme cresceu seu papel como distribuidora e ativa co-produtora de filmes brasileiros. O pico de distribuição da Embrafilme se deu em 1980, com mais de 40 filmes lançados e continuou até ser dissolvida em 1990, com uma média de lançamento de cerca de 20 filmes por ano, enquanto as co-produções seguiram semelhante nível.
Há reclamações de que os programas de empréstimos favoreciam os filmes comerciais em detrimento dos artísticos, mas a partir de 1974, quando O Amuleto de Ogum, de Nelson Pereira dos Santos, foi co-produzido e distribuído pela Embrafilme, muitos dos mais celebrados realizadores brasileiros foram apoiados pela agência, incluindo Eduardo Escorel, Joaquim Pedro de Andrade, Carlos Diegues, e até mesmo diretores trabalhando à margem como Júlio Bressane e Gláuber Rocha, após retornar do exílio. Nos anos 80 a ascensão da televisão, o exorbitante aumento dos custos de produção, aliado a uma escalada da inflação e um domínio das pornochanchadas de produção barata - 75% dos 90 filmes realizados no Brasil em 1988 podem ser considerados "pornográficos", levou ao declínio acentuado no público de cinema, de 275 milhões em 1975 para 91 milhões em 1985. A Embrafilme tinha seguido seu curso, e a orientação para o mercado do novo presidente, Collor, levou-o a abolir a Embrafilme em 1990, assim como o CONCINE e a "Lei Sarney" de benefícios fiscais a projetos culturais.
Texto: RIST, Peter H. The Historical Dictionary of South American Cinema. Plymout: Rowman & Littlefield, 2014, pp. 232-3.
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