Filme do Dia: Violette (2013), Martin Provost
Violette (França/Bélgica, 2013). Direção: Martin
Provost. Rot. Original: Martin Provost, Marc Abdelnour & René de Ceccatty.
Fotografia: Yves Cape. Música: Hugues Tabar-Nouval. Montagem: Ludo Troch. Dir.
de arte: Thierry François. Cenografia: Catherine Jarrieur-Prieur. Figurinos: Madeline
Fontaine. Com: Emmanuelle Devos, Sandrine Kiberlain, Olivier Gourmet, Catherine
Hiegel, Jacques Bonnaffé, Olivier Py,
Nathalie Richard, Stanley Weber.
Anos 1940. De origem humilde, Violette Leduc
(Devos) é uma insegura escritora não publicada que, incentivada pela estrela
literária em ascensão Simone de Beauvoir (Kiberlain) tem seu primeiro livro
publicado pela editora Gallimard. Apaixonada obcecadamente por Beauvoir, que se
intimida com sua obsessão mas respeita seu talento literário e sua gana em
expressar a sexualidade feminina de forma pouco habitual, Violette sofre com a
solidão e constante instabilidade emocional que a vincula sobretudo a mãe
Berthe (Hiegel). Ela vivencia ao longo dos anos uma relação tensa com Beauvoir,
a quem é ao mesmo tempo agradecida e recriminatória por ter incentivado sua
carreira e de quem observa as glórias literárias e mentiras condescendentes –
como o fato de afirmar que Gallimard está lhe proporcionando uma pensão, quando
ela afirma a própria Simone se tratar dela. Incapaz de vivenciar sua
afetividade de maneira estável, Violette se envolve em relações que
afetivamente não lhe preenchem, como a que estabelece com um trabalhador casado
(Weber).
É impossível não se sair com sensação de déja vù de uma produção como essa, dada
a recorrência de biografias de
celebridades, em sua maior parte antenadas ao mundo artístico, que o cinema
francês produziu nos últimos anos e que se beneficiam quase que única e
exclusivamente da curiosidade sobre os bastidores de figuras centrais (ou
periféricas, como no caso) da cena cultural de um determinado local e período.
Se o filme corretamente não explora a morte (somente citadas nas habituais
cartelas finais) ou momentos dramáticos da trajetória de Leduc de forma
gratuita, tampouco consegue emplacar uma aproximação de seus personagens que vá
além da média de tais produções. Há aquela triste nuvem que parece pairar
habitualmente sobre a representação de um determinado círculo de artistas
célebres que torna suas encarnações algo empostadas e triviais como os cenários
e figurinos de época e a qual aparentemente somente produções que fogem desse
perfil de cinebiografia conseguem se esquivar (como Jarman em seu Wittgenstein, por exemplo). E,
complicando ainda mais, ocorre na representação da própria dupla central do filme
caracterizações que tendem ao caricato,
seja no caso da mulher tensa, atrapalhada e emocionalmente imatura como
se torna a Violette de Devos ou na da mulher segura de si, distanciada e
controladora que é Beauvoir, sendo no caso da última tal tom monocórdico se
tornado ainda mais engessado e pouco dinâmico. As questões suscitadas pelas
limitações, vicissitudes e valores da complexa personalidade de Violette são,
sem dúvida, envolventes. Porém, mais enquanto si mesmas que propriamente da
maneira que expressas pelo filme. Destaque para a cena na qual Genet realiza
uma produção experimental que faz uma referência jocosa a célebre sequencia do
carrinho de bebê na escadaria de Odessa de O
Encouraçado Potemkin. TS Prod./France 3 Cinéma/Climax Films para Diaphana
Films. 139 minutos.
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